Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Robin’s Wish (2020): obrigado, Robin Williams

Documentário traz um compilado de revelações sobre as circunstâncias da morte de Robin Williams, chama a atenção para uma temível doença e celebra a vida e obra de um ator que, acima de tudo, levava alegria às pessoas.

A morte de Robin Williams em agosto de 2014 foi um choque que pegou muita gente de surpresa. Muito se foi dito e especulado sobre os motivos que o levaram ao suicídio, mas a verdadeira causa só foi descoberta durante sua autópsia. A viúva do ator, Susan Williams, iniciou uma campanha para homenagear o marido e contar para as pessoas sobre a Demência de Corpos de Lewy. Nasceu, assim, o documentário “Robin’s Wish” (“O Desejo de Robin”, em tradução livre).

Dirigido por Tylor Norwood, a obra abrange a vida e especialmente os últimos meses de Robin Williams, quando a doença começou a minar suas capacidades, afetando sua carreira e sua saúde mental. O diretor recebeu a oferta de Susan Williams para a tarefa e disse que seu objetivo era ajudar as pessoas a entender o sofrimento de Robin conforme seu talento e suas faculdades mentais rapidamente o abandonavam. Ao fim de uma hora e dezessete minutos, fica claro que ele conseguiu.

Intercalando entrevistas com a própria Susan, pessoas da indústria cinematográfica que trabalharam com Robin em seus últimos papéis quando os sintomas começaram a aparecer, além de diversos especialistas em neurologia, o filme costura bem a narrativa que leva o espectador com calma até os últimos dias do ator. Para quem é fã, é de apertar o coração. Há uma boa construção das emoções sentidas por Robin e Susan além de informações sobre a terrível doença que já tinha tomado conta do cérebro do ator, mas que tinha sido erroneamente diagnosticada como doença de Parkinson.

Ouvir a viúva contando o quanto a ansiedade e depressão do ator dispararam nos últimos anos emociona, principalmente quando ela própria tem dificuldades de soltar as palavras certas em meio a lágrimas. Grave insônia, alucinações e sinais de paranoia também afetaram o ator, que dizia que queria “resetar” o cérebro. Mesclar tais depoimentos com os de especialistas dizendo, entre outras coisas, que era impressionante que Robin conseguia andar dado o avanço da degeneração de seu órgão central, mantém uma linguagem didática sem perder o lado sentimental que precisa.

Susan diz que, se Robin tivesse o diagnóstico correto antes de falecer, isso pelo menos teria dado alguma paz a ele. Essa é uma de várias falas da viúva que ilustram o porquê dela se dedicar tanto a fazer com que mais pessoas saibam sobre a doença. Há também depoimentos de amigos de longa data e vizinhos que interagiam com o ator regularmente, que funcionam para fornecer a carga dramática e elevam a gentileza e o espírito leve de Robin, mas fica a sensação de que poderia ter tido depoimentos de seus filhos. Talvez eles não tenham querido participar, o que é totalmente compreensível, mas fica a torcida de que tenham sido, ao menos, convidados. Apesar de tudo, a sensação de que o mundo perdeu não só um grande talento, mas alguém especial que oferecia conforto e alegria de forma tão genuína que muitas vezes bastava estar em sua presença é palpável. É difícil não embarcar em sentimentos de melancolia, saudades, nostalgia e gratidão.

Há um bom uso de datas, partindo de quando os sintomas começaram e, aos poucos, se aproximando do fatídico dia. Poderia ser uma estratégia de mau gosto que apelasse para o sensacionalismo do falecimento de Robin, mas consegue driblar isso e gerar uma crescente tensão na narrativa. Esta também é bem intercalada com fotografias de vídeos antigos de Robin para contar um pouco da sua carreira, sua amizade com Christopher Reeve e Stanley Wilson, suas constantes viagens para se apresentar para soldados americanos em outros países e sua invejável postura profissional. Esses elementos são bem direcionados para engrandecer a figura do ator, que todos tinham como um contente farol de alento.

O luto de Susan é visível, assim como sua força e seu amor por Robin. Do carinhoso sorriso que dá ao contar sobre o dia que se conheceram à sua luta para chamar a atenção das pessoas e educá-las sobre a Demência de Corpos de Lewy (assim gerando interesse e, quem sabe, mais estudos sobre a doença), é impossível não simpatizar com ela. A boa mescla de depoimentos com auxílios visuais certeiros ilustram a afiada direção que consegue fazer a plateia sentir o sofrimento de sentir suas capacidades mentais serem minadas, ao mesmo tempo que celebra a vida e a carreira de um homem que tinha como desejo ajudar as pessoas a sentirem menos medo. Conseguiu. Descanse em paz, Robin Williams.

Bruno Passos
@passosnerds

Compartilhe