Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 28 de novembro de 2020

O Grande Ivan (Disney Plus, 2020): elenco estelar não salva filme de roteiro sem foco

A história real do gorila Ivan é bonita e inspiradora. Infelizmente, não basta CGI de ótima qualidade e um estelar elenco para compensar um roteiro indeciso que desperdiça suas oportunidades de grandeza.

O Grande Ivan” é um filme adaptado de um livro infantil escrito por K. A. Applegate e ilustrado por Patricia Castelao. Ambos inspirados na história real do gorila Ivan, que foi resgatado de caçadores ilegais que o capturaram ainda bebê no Congo. O animal acabou indo para um pequeno circo instalado em um shopping center, onde passou 27 anos de sua vida. Isto é basicamente o pano de fundo deste filme que originalmente seria lançado no cinema, mas devido à pandemia do COVID-19 acabou indo direto para a Disney Plus.

Os animais gerados por computador têm visual realista impressionante, certamente oriundos das técnicas desenvolvidas para os live actionMogli” e “O Rei Leão”, e um estelar time de atores que contribui como pode para trazer personalidade aos bichos. O incrível Sam Rockwell faz o protagonista, que é um enorme e musculoso gorila que é um poço de carinho e ternura – interessante contraste quando se percebe que sua função no circo é agir como um gorila furioso na tentativa de ganhar a atenção do público. Outros animais que se apresentam são a velha elefanta Stella (Angelina Jolie); um galinha (Chaka Khan) que usa um apetrecho que a permite rebater bolas de beisebol; um coelho que anda num pequeno caminhão de bombeiro; uma arara tagarela (Phillipa Soo); o cachorro de rua Bob (Danny DeVito), que é o melhor amigo de Ivan, com quem divide os melhores diálogos do longa; e a poodle Snickers (Helen Mirren).

Entretanto, o roteiro é tão desconexo que acaba se perdendo em seu ritmo e não permite que as qualidades técnicas apresentadas alcem o filme a um patamar mais alto. Assim como o gorila do livro e da vida real, Ivan começa a se expressar por pinturas, mas tal fato nunca recebe a atenção necessária para ter um peso narrativo justificado. O mesmo pode ser dito sobre quando a bebê elefante Ruby (Brooklynn Prince) chega ao circo, apresentando um conflito sobre a própria tomar o lugar de destaque do protagonista nas apresentações para depois virar uma história sobre liberdade. Parecem duas tramas distintas sem um miolo recheado de material que conectaria uma a outra. Ao não saber focar em qual história desenvolver, todas ficam rasas e sem peso, mesmo com ótimos atores entregando emoções.

Há ainda os humanos que trabalham no circo, como Mack (Bryan Cranston), o dono e apresentador. Mesmo com todo o carisma do ator – que faz as cenas do picadeiro terem real magia – o roteiro não decide se vai focar no seu amor pelos animais, seus esforços por conseguir mais vendas na bilheteria ou na maneira com que esses dois fatos se digladiam. Seu arco espelha os outros ao ser simples demais para criar alguma conexão com o espectador.

O filme também traz a pequena e adorável Julia (Ariana Greenblatt) e seu pai, o cuidador de animais George (Ramón Rodríguez). Apesar dos dois atores cativarem o público, seus arcos deveriam ter um impacto na trama principal que nunca rende o prometido porque o roteiro não consegue decidir em qual história focar.

Mesmo com admiráveis efeitos visuais e um time de atores impressionante, “O Grande Ivan” não faz jus à história real do gorila que passou 27 anos em cativeiro. Rende uma sessão escapista e divertida sem dúvida, mas está mais para algo que vale umas horas de tempo em família do que um longa que realmente inspire e emocione.

Bruno Passos
@passosnerds

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