Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 04 de novembro de 2020

Jovens Bruxas – Nova Irmandade (2020): magia sem personalidade

Com um impressionante número de tramas sumariamente abandonadas, continuação do longa de 1996 não deve angariar novos fãs à franquia.

Jovens Bruxas: Nova Irmandade” é a continuação do longa de 1996 “Jovens Bruxas”, e traz uma trama-base meio parecida em que uma garota com poderes que desconhece chega numa escola e conhece outras três que são bruxas e a convidam para formar um time. Produzido pela Blumhouse, este longa é mais uma tentativa da produtora de revisitar propriedades intelectuais antigas, mas, infelizmente, a qualidade deste não deve render outras sequências.

Chamar de continuação é um pouco forçado, pois o único elemento que faz uma ligação com o filme original se resume a um easter egg mal encaixado na trama. Parece que era para ser uma cena pós-créditos que ficou perdida num longa que está mais para reboot do que para sequência.

A protagonista é interpretada por Cailee Spaeny, que é um dos raros elementos de qualidade nesta obra. Mesmo com um roteiro desconexo e que abandona um impressionante número de tramas e conflitos apresentados, a atriz entrega presença e carisma e tem boa química com Michelle Monaghan, que interpreta sua mãe.

A história começa quando as duas se mudam para outra cidade para morar com o novo namorado da mãe (David Duchovny) e seus três filhos. Logo percebe-se que este é o conflito principal proposto, principalmente quando a protagonista descobre que seu futuro padrasto é um coach para homens se sentirem poderosos e fortes. A premissa de conviver com uma pessoa controladora é interessante, mas nada é aprofundado e a resolução mal pode ser chamada de amadora.

Uma subtrama com bastante potencial é a de quando as garotas usam seus poderes para mudar a personalidade de um menino agressivo e praticante de bullying na escola. As próprias levantam a questão moral de que ele sabia e não consentiu com o que aconteceu. O que poderia ser uma discussão intrigante e vital é tratada de maneira tão simplória com resultados ocos e bobos.

Outra subtrama se apresenta em uma cena em que se descobre que um dos filhos do namorado da mãe é sonâmbulo e acaba entrando no quarto da menina. Isso serve apenas para criar uma cena de susto e é sumariamente ignorado pelo resto do tempo de projeção. Estes são apenas exemplos de subtramas e conflitos apresentados e largados que acabam rendendo um filme tedioso.

O roteiro pelo menos dá boas motivações para a protagonista, transformando-a num ser humano complexo, mas priva as outras três bruxas de qualquer coisa similar. Ao não humanizá-las, o filme as torna pessoas unidimensionais e superficiais, desprovendo-as de qualquer elemento que provoque interesse no espectador. Quando se analisa o longa de 96, todas as quatro tinham motivações bem apresentadas do porquê a magia é importante para elas, que podem se libertar de realidades duras e cruéis. Aqui, porém, seus poderes são usados só porque são legais.

A construção de mundo também é muito rasa. As três bruxas já tinham um livro de feitiços e basta segui-lo para que tudo funcione. De onde ele veio, se há consequências por abuso de poder, se há problemas oriundos de feitiços mal executados…. tudo é ignorado. Há quase zero discussão sobre as consequências de seus atos mágicos. Isso tudo sem contar que o CGI é fraco e não convence.

No final das contas, o filme se resume a um reboot disfarçado de continuação que pouco faz para angariar novos fãs para a franquia e não deve render outra sequência. Com facilidades narrativas preguiçosas, um número de tramas abandonadas impressionante e personagens rasos e entediantes, “Jovens Bruxas: Nova Irmandade” pouco tem a oferecer.

Bruno Passos
@passosnerds

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