Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 18 de setembro de 2020

A Batida Perfeita (2020): divertimento sem grandes pretensões

Longa de Nisha Ganatra apresenta uma história que diverte, apesar de não conter elementos inovadores.

“A Batida Perfeita” conta a história de Maggie (Dakota Johnson), assistente de Grace Davis (Tracee Ellis Ross), uma cantora de renome que há mais de dez anos não lança um álbum novo, vivendo apenas do sucesso de seus antigos hits. A protagonista procura uma oportunidade para se tornar produtora musical, aproveitando-se por estar no meio de pessoas importantes da indústria, apesar de ser praticamente invisível entre elas. Quando Maggie conhece e começa a trabalhar com David (Kelvin Harrison Jr), um cantor novato e ainda desconhecido, ela vê uma chance de se provar como profissional na área onde realmente deseja atuar. Precisa então ter jogo de cintura para ajudar Grace a navegar pelo momento atual de sua carreira e também cuidar de seus afazeres diários.

Dirigido por Nisha Ganatra e roteirizado por Flora Greenson, o filme tece um comentário eficiente sobre como as mulheres negras (como é o caso de Grace) especialmente com mais de 40 anos, em geral não são procuradas para entregar novidades na indústria musical, mas deveriam somente continuar fazendo mais do mesmo. São quase sempre desencorajadas de inovar por medo de colocar seu sucesso em risco caso a novidade não conquiste o público. Enquanto Grace escreve novas músicas e sente sua criatividade, seu time de agentes e figurões da gravadora querem forçá-la a uma residência em Las Vegas, algo que significa que fará a mesma coisa todos os dias para ganhar dinheiro fácil sem nenhum desafio para si e sua equipe. Maggie percebe que isso não é o que Grace realmente deseja e tenta ajudá-la como pode, o que em certos momentos traz conflitos entre as duas.

Dakota Johnson e Trace Ross têm ótima sinergia e as cenas em que suas personagens estão em foco são as melhores do longa, apesar de todos os atores entregarem ótimas atuações. Pendendo muito para o lado cômico da narrativa, essa abordagem dá certo principalmente por conta das atuações de Ice Cube e June Diane Raphael. Ambos interpretam personagens que trabalham para Grace e equilibram bem o tom mais pé no chão da protagonista e da cantora, trazendo momentos bastante divertidos para a história.

Como não poderia ser diferente em um filme que traz a música como tema principal, as performances musicais são impressionantes, assim como toda a trilha sonora, principalmente no seu terceiro ato. Quando Tracee Ellis Ross está cantando é impossível tirar os olhos dela, que dá um show (literalmente) em todas as oportunidades. Já Dakota Johnson entrega um desempenho cheio de carisma, mesmo que muito não seja descoberto sobre sua personagem nos dois primeiros atos. Ela é principalmente definida pelas suas ambições e pela paixão por música, além de ser viciada em trabalho e estar sempre esperando ser notada positivamente (já que o contrário acontece mais vezes do que ela gostaria). Nas sequências em que é apresentada, é importante vê-la colocar em prática seus conhecimentos sobre produção, aquilo que também gostaria de fazer com a carreira de Grace, e a dinâmica com David (também interesse romântico da obra).

Nesse sentido, o relacionamento entre eles é interessante. Por outro lado, a abordagem romântica não chama muita atenção e, por vezes, parece existir só para dizer que teve um romance presente na história, sendo no geral completamente dispensável. De qualquer forma, Dakota Johnson e Kelvin Harrison Jr. apresentam uma química satisfatória, o que ajuda a tornar seu relacionamento amoroso mais cativante.

É intrigante ver Maggie saindo da sua zona de conforto. Essa parte da trama gera uma identificação com aquelas pessoas que, como ela, já quiseram muito algo na vida, porém quando conseguem ficam com medo de não atenderem às suas próprias expectativas  e se decepcionarem, tentando evitar a autossabotagem a todo custo. É interessante ver personagens femininas como Maggie e Grace pelo olhar de uma diretora mulher.

Embora contenha alguns pontos de virada inesperados, os conflitos maiores da obra são previsíveis a ponto de ser possível deduzir certamente como tal plot vai acabar enquanto ainda está sendo montado. O roteiro de Greenson, estreante na função, infelizmente não traz nada de novo nesse sentido, entregando algo que já foi feito diversas vezes antes e de forma mais competente. Isso se percebe na conclusão, que pode ser considerada anticlimática e certamente poderia conter pelo menos mais alguns minutos de tela para encerrar alguns arcos de forma mais eficiente. Logo, “A Batida Perfeita” é uma boa pedida para quem quer assistir a uma obra leve e apenas relaxar, apesar de faltar algo na sua execução que a torne de fato mais especial ou memorável.

Lívia Almeida
@livvvalmeida

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