Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 01 de setembro de 2020

Turma de 83 (Netflix, 2020): Tropa de Elite indiano

Bom filme policial, com drama, corrupção, tiros e mortes à la Tarantino. Com um elenco forte e roteiro amarrado, o longa é uma ótima opção de entretenimento rápido.

“O sistema é foda”, essa frase do roteiro da icônica franquia brasileira “Tropa de Elite” é um bom resumo para este filme distribuído pela Netflix: “Turma de 83”. Nele, a favela carioca é trocada pelas periferias de Mumbai, na Índia, continuando a tendência de internacionalizar e diversificar as opções do catálogo do serviço de streaming. Lá, gângsteres e traficantes dominam uma rede de corrupção e propina dentro da própria polícia. Por isso é criado um grupo contra corrente, ou como é dito na obra, “anticorpos” para agir de dentro do “corpo policial”. Tal grupo é montado e liderado, ainda na academia, pelo “Diretor” (Bobby Deol). Ele reúne seus cinco piores alunos, porém íntegros e com um forte laço, para combaterem internamente os criminosos que compraram a liberdade e a vista grossa dos tiras.

Apesar da distância espacial e cultural, Brasil e Índia compartilham um passado histórico como colônia e uma geoeconomia muito semelhantes. Sendo assim é possível identificar vários elementos e situações, principalmente o tráfico, armamento ilegal, retratos de extrema pobreza e violência. Mesmo na década de 1980, quando o filme é retratado, não choca a população ordinária. O questionamento do longa, “o fim justifica os meios (?)”, é muito identificável. Afinal, foi criado um grupo ilegal para matar ilegalmente outros grupos de pessoas ilegais. E como fica a justiça, moral e ética?

O diretor diferencia muito bem cada personagem do núcleo dos cinco amigos, trazendo personalidade e equilíbrio para o grupo como um todo. Aqui são brilhantemente executados, com um misto de drama e pitada de bom humor. Inclusive equilíbrio é um dos destaques do filme que sabe entregar para o público o que precisa, nos momentos certos e sem errar na dose. Porém, lhe falta tempo para que possamos entender melhor quem são esses personagens, seus passados e intimidades, apesar de duas cenas de masturbação. A história melhor explorada é a do “Diretor”. Através de uma montagem não linear entende-se sua motivação e sede para combater os “malvados”, mas ele próprio claramente não é um “mocinho”.

A obra mistura vários estilos e estéticas. Por vezes tem um tom de novela, bem estilo Bollywood, que é reforçada por uma trilha exagerada e marcada. Nas cenas de luta e morte, carrega um teor de Tarantino, bem grotesco e brutal. Também apresenta toques fortes de documentário, muito proveniente da fotografia, que é um destaque positivo da obra. Quente e de textura poeirenta, ela retrata bem a sensação de se estar no meio do centro urbano de Mumbai, ainda mais com a paleta em tons de bege da direção de arte.

Pode-se dizer que é uma obra completa, equilibrada e que cumpre muito bem o que propõe. No caso do público não querer ter um choque cultural com um clássico bollywoodiano, esta é uma interessante forma de se inserir no cinema indiano, por não ser tão diferente do que se está habituado a ver no Brasil.

Maduda Freitas
@MadudaFreitas

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