Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 06 de agosto de 2020

Scooby – O Filme (2020): agradando (apenas) a nova geração

Animação se perde com roteiro confuso e protagonista vira um mero convidado para um grande encontro de personagens da Hanna-Barbera Productions.

A franquia “Scooby-Doo” foi criada em 1969 por Joe Ruby e Ken Spears, com produção da clássica Hanna-Barbera Productions. Após cinco live-actions, chegou a hora de mais uma aventura para a equipe da Mistério S.A.: “Scooby – O Filme”, uma animação feita para trazer os personagens para a nova geração e atrair novamente os amantes de nostalgia.

A trama se divide em duas etapas: na primeira, são apresentados os personagens ainda quando crianças – neste ponto, é mostrado o primeiro encontro entre Scooby e Salsicha e como a dupla conheceu Fred, Velma e Daphne. Já na segunda parte, a equipe já está adulta, trabalha com investigações e precisa salvar a cidade do “apocãolipse” depois que o fantasma do cão Cerberus é liberado pelo vilão Dick Vigarista.

A trama começa bem pontual, com a busca por um fantasma em uma casa mal assombrada. Menos de dez minutos depois, Salsicha e Scooby já estão envolvidos em uma perseguição em uma nave espacial com o Falcão Azul, o Bionicão e Dee Dee Skyes fugindo do Dick Vigarista e sua equipe de robôs capangas. Não que a história precise sempre ficar limitada ao padrão dos desenhos antigos de fantasma, investigação e resolução, mas a narrativa vai de oito a oitenta de uma maneira desnecessariamente rápida.

O diretor Tony Cervone foi um nome certeiro para comandar o longa-metragem. Sua carreira foi construída com trabalhos em grandes animações, incluindo “Tom e Jerry”, “Looney Tunes” e até duas produções de “Scooby-Doo”. Com produção da Warner Animation Group, o maior problema do novo projeto é o roteiro, escrito por quatro pessoas: Matt Lieberman (“Crônicas de Natal”), Adam Sztykiel (“Rampage: Destruição Total”), Derek Elliott e Jack Donaldson (ambos em seu primeiro trabalho na função).

A impressão é de que cada um apresentou uma ideia, o roteiro foi ganhando novos elementos e, no final, aprovaram com toda essa bagunça mesmo. O que é uma pena, pois os primeiros quinze, vinte minutos são completamente apaixonantes. Depois, não fica muito claro qual é o objetivo do vilão e nem onde o Falcão Azul e sua trupe querem chegar.

A técnica de animação combinou perfeitamente com a história, tendo elementos que buscam a realidade, mas que ainda conversam com a estética exagerada vista nos desenhos. A obra acerta também ao colocar os tradicionais efeitos sonoros que eram uma marca registrada antigamente. A estratégia segue a mesma das renovações de franquias: atrair as crianças com uma animação super colorida enquanto captura os mais velhos com referências de cultura pop, como Simon Cowell, Tinder e até Shallow da Lady Gaga e Bradley Cooper.

Os bordões estão lá: o desabafo do vilão “teria conseguido se não fossem essas crianças intrometidas”; a Máquina do Mistério; os clipes dos personagens correndo com o tema principal; as referências a vários desenhos clássicos da Hannah-Barbera, entre outros exemplos. Entretanto, ficou faltando ser uma história de fato do Scooby-Doo, que se tornou apenas um convidado para a festa.

A obra segue uma característica contrária ao que foi feito no recente “A Família Addams”. Enquanto Gomez, Mortícia, Wandinha, Feioso e companhia tiveram uma trama que não fugia da zona de conforto, “Scooby – O Filme” foi para uma área muito longe do comum. Dessa forma, o maior questionamento que a Mistério S.A. precisa resolver nesta produção é entender como uma obra tão caprichada acabou prejudicada por um roteiro tão confuso.

Fábio Rossini
@FabioRossinii

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