Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 17 de maio de 2020

#RapaduraRecomenda – Predador (1987): quando brucutus foram presas

O primeiro filme da franquia se mostra uma ótima mescla de ação, suspense e terror. Subverte a figura do herói invencível brucutu dos anos 1980 para elevar o status na apresentação de uma das criaturas mais marcantes da cultura pop.

Em 1987, chegava às telonas o filme que trouxe ao cinema um de seus mais memoráveis e marcantes monstros. “Predador” soube usar a iconografia dos heróis brucutus da década de 1980 a favor de sua narrativa e entregou um antagonista que fazia frente à figura invencível de Arnold Schwarzenegger.

O longa tem uma conturbada e curiosa história de produção. Além das dificuldades logísticas em transportar pessoas e equipamentos para o interior de uma floresta e do fato de praticamente todos ficarem doentes devido ao consumo de água não filtrada apropriadamente, o design do próprio ser foi fonte de inúmeros problemas.

Originalmente, o alienígena teria um visual meio insetóide, meio reptiliano bípede, e seria interpretado por ninguém menos que Jean-Claude Van Damme, ainda sem fama na época das filmagens. Entretanto, o extremo desconforto e calor causado pelo traje não só levaram o ator a desmaiar como também impediam que ele executasse os movimentos ágeis para os quais havia sido contratado. O clima rapidamente azedou e o ator foi demitido após poucos dias, levantando questões sobre o que fazer com a estética da criatura.

Após ter trabalhado com Stan Winston em “O Exterminador do Futuro”, Schwarzenegger sugeriu que o artista fosse contratado para redesenhar a concepção do antagonista. O renomado profissional dos efeitos especiais e suas ideias custaram o dobro do que o estúdio pretendia gastar, mas o contrato foi fechado e o cinema foi presenteado com um de seus monstros mais icônicos. A aparência do caçador alienígena com rastafáris e equipamento bélico povoa a imaginação dos fãs décadas depois e busca uma nova produção que o trate com dignidade.

Os anos 1980 eram cheios de filmes de ação com protagonistas segundo a premissa de que o exército de um homem só resolveria qualquer problema com sua força e poderes heroicos. O novo visual resultou no impressionante monstro de mais de dois metros de altura que era um inimigo poderoso para fazer frente ao time de brucutus militares liderados por Dutch (Schwarzenegger). A escolha do roteiro de usar essas figuras para elevar a sensação de ameaça é inteligente, já que ao colocá-los como presas, transforma os heróis do período em vítimas vulneráveis. Uma curiosidade é que um dos membros do time é Shane Black, que veio a dirigir o reboot da franquia “O Predador”, de 2018.

A alta classificação indicativa auxilia na sensação de perigo e suspense, pois corpos vão sendo encontrados aos poucos, esfolados e eviscerados. O espectador sente, junto com os personagens, a crescente incerteza e medo perante o desconhecido, auxiliado pela direção certeira de John McTiernan (“Duro de Matar”), que demora a revelar a criatura, mas vai dando relances de suas habilidades com suas visões de calor e infravermelha. Assim, um oponente superior, melhor equipado e sempre à espreita é mostrado perseguindo e vigiando sua caça.

Apesar desses elementos, o longa não é apenas sisudo e sombrio. Tem sua dose da comédia característica do contexto, contando com frases de efeito em grande quantidade. Um dos trunfos do texto é encaixá-las bem e gerar um festival de memes bastante divertidos. Várias das frases famosas atribuídas a Schwarzenegger, por exemplo, vêm deste filme, além do épico comprimento de mãos entre o astro e Carl Weathers, transbordando testosterona oitentista por meio de seus músculos avantajados.

É necessário destacar também a trilha sonora do grande Alan Silvestri, que criou um de seus vários temas icônicos. A composição não só remete a própria obra, mas às sensações sentidas pelo público quando o assistiu.

Uma icônica criatura foi concebida tendo apenas oito minutos em tela no total, provando que escondê-la foi positivo para narrativa e para levar o espectador a sentir a mesma incerteza que os protagonistas humanos.  Com um roteiro enxuto e que equilibra bem a diversão escapista com uma boa dose de suspense e terror, “Predador” se mostra um marco no gênero ação dos anos 1980 e justifica a fama do personagem ser mantida após várias décadas.

Bruno Passos
@passosnerds

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