Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 12 de abril de 2020

Um Amor, Mil Casamentos (Netflix, 2020): amor nenhum

Uma tentativa frustrante de fazer o expectador rir e se apaixonar, com uma história sobre um casamento onde tudo, ou quase tudo dá errado. Mesmo com um elenco de peso, os atores não conseguem segurar o filme e o resultado é mais um longa que parece já ter sido visto várias vezes.

A comédia romântica é um gênero atemporal, em alguns momentos está mais em “alta” e às vezes, nem tanto. Para a sorte dos amantes do gênero, a Netflix tem investido bastante nesse tipo de filme e com bastante êxito, principalmente com uma pegada mais teen, como “A Barraca do Beijo (2018)” e “Para Todos os Garotos que Já Amei (2018)”. Apesar de romances bem “feijão com arroz”, eles têm um apelo bem forte para o público e contam com personagens carismáticos. Já “Um Amor, Mil Casamentos” é diferente, mas não em um bom sentido.

Dois jovens adultos se conhecem em Roma, ela é americana, ele inglês. Dina (Olivia Munn) e Jack (Sam Claflin) estão claramente apaixonados um pelo outro, mas na hora do beijo, que representaria a confirmação do sentimento, o destino atrapalha (nem tanto assim, a verdade é que ele foi covarde, mas ok). Eles se separam, sem saber o que um sente pelo outro de verdade. Você já ouviu essa história antes, certo? Mas, isso não seria um problema se tivesse sido bem contada, com personagens interessantes e quem sabe, um plot inesperado. Não é o que acontece.

Três anos depois, Jack ganha uma nova oportunidade do destino. Sua irmã, Hayley (Eleanor Tomlinson), que é amiga de Dina, está se casando em Roma, um casamento lindo, diga-se de passagem, pontos para a direção de arte e fotografia. Porém, a própria Hayley também tem uma pendência do passado para resolver, seu ex-namorado da adolescência aparece de penetra e drogado no seu casamento, ameaçando destruí-lo. O irmão então fica encarregado de resolver esse problema, enquanto tenta se reaproximar de Dina. Todos esses personagens, compõem o núcleo principal e são todos mal desenvolvidos, o espectador não consegue se identificar ou torcer para nenhum deles.

Na verdade, você torce para Jack e Dina ficarem juntos logo, pois não aguenta mais assistir os desencontros dos dois, já que química mesmo eles não têm. Há, no entanto, duas pessoas no elenco que fazem um bom trabalho. O “Madrinho” de casamento da noiva é um deles, que não é gay e nem é apaixonado por ela, diferente dos estereótipos conhecidos, Bryan (Joel Fry). Já o outro personagem é um estereótipo bem conhecido, mas que funciona, pois dentro dessa comédia romântica é o único minimamente cômico: um “tiozão do pavê”, convidado chato e inconveniente que usa uma saia escocesa, mesmo não sendo escocês, Sidney (Tim Key).

Como diz a voz aleatória e impessoal da narradora: “Vivemos em um universo governado pelo caso e pelo acaso, onde só é preciso um momento de má sorte para todos as nossas esperanças e sonhos irem para o ralo”. E graças a esses casos e acasos, vários desastres acontecem e somos apresentados à alguns “worst case scenarios”, em que tudo dá errado. Esse acaso é uma taça com calmante, que é colocada na mesa, para uma pessoa específica, mas crianças aparecem e trocam os nomes dos lugares, começa então uma brincadeira de “roleta russa”.

Isso tudo é ritmado por uma trilha recheada de música clássica, sem personalidade, daquelas que já estão liberadas de direitos autorais e foram utilizadas em outras obras audiovisuais de forma saturada, empobrecendo a visão, ou melhor, a audição sobre o filme.

A culpa aqui pode ser colocada tanto no diretor quanto no roteirista, afinal, os dois são a mesma pessoa: Dean Craig, roteirista de “Moonwalkers: Rumo à Lua” e estreante na direção de longa-metragem. Os erros são cometidos nos dois departamentos, um roteiro fraco dirigido de maneira rasa. O resultado é uma comédia romântica que não funciona como romance e nem comédia, funciona apenas para um sábado a tarde quando um espectador desavisado e sem nada melhor para fazer se sente atraído pela sinopse e pelo trailer, que é muito bem montado, mas engana, como em “Esquadrão Suicida (2016)”. Essa parece ser a única explicação razoável para que, na semana de sua estreia “Um Amor, Mil casamentos” tenha alcançado o Top 10 da Netflix no Brasil.

Maduda Freitas
@MadudaFreitas

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