Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 12 de abril de 2020

#RapaduraRecomenda – Orphan Black (2013-2017): talento clonado

Com um show de atuação de Tatiana Maslany, a série leva o espectador por uma trama de suspense e traições que, mesmo com ritmo desbalanceado, consegue prender a atenção.

Completada em cinco temporadas, a série canadense “Orphan Black” começa com Sarah Manning (Tatiana Maslany), órfã que não leva muito jeito para a maternidade. De repente, ela dá de cara com uma mulher exatamente igual a ela que, logo em seguida, comete suicídio. Confusa, ela mergulha na situação na esperança de conseguir recursos para dar uma reviravolta em sua vida. Porém, esse ato a leva a descobertas chocantes sobre si mesma.

A trama de que Manning é um clone logo é revelada, juntamente com a existência de várias outras com o mesmo código genético. Isso dá início a uma intrincada trama de espionagem corporativa, ética genética e debates filosóficos sobre direitos dos clones. A série se desenvolve num clima de tensão e suspense que, em geral, prende a atenção, mesmo com a trama por vezes ficando demasiadamente confusa e personagens, que claramente precisavam de mais importância, acabarem com arcos mal desenvolvidos.

A série ganha muitos pontos com seus personagens. São vários cujas histórias se entrelaçam de diversas maneiras e, se o roteiro por vezes não ajuda e se livra de alguns personagens bruscamente, seus atores entregam um carisma gigante. Jordan Gavaris como Felix é um personagem de personalidade forte e mistura muito bem seu lado boêmio com seu lado fraternal; Maria Doyle Kennedy faz uma mulher endurecida pelo tempo e pela vida difícil que levou, deixando claro que a bagagem do seu passado resulta na sua postura de quem é capaz de tomar decisões difíceis. Kristian Bruun faz um personagem adorável. A direção de seu personagem, Donnie Hendrix, parece ter sido mudada no início da série, mas foi uma mudança bem-vinda. Ele é afetuoso e a encarnação da vida suburbana canadense. Kevin Hanchard faz o policial Art Bell, um homem confuso, magoado e com uma boa dose de indignação. Evelyne Brochu entrega uma personagem que precisa ser duas caras por boa parte do tempo, mas que se revela forte e determinada. Dylan Bruce é o mais fraco dos principais, prejudicado por um roteiro que jogou seu personagem para vários lados, ficando evidente que o ator teve dificuldades em entender seu papel.

São vários ótimos personagens que enriquecem muito a série, mas o grande trunfo de “Orphan Black” é Tatiana Maslany. Ela faz a Sarah Manning do começo da série e, ao longo da série, faz todos os clones. Dezenove aparecem e várias são desenvolvidas, principalmente um grupo de cinco que interagem durante todas as cinco temporadas. Maslany é incrível, interpretando mulheres bem distintas entre si. As diferenças vão muito além de estilo de roupas e cabelos, passando por maneirismos, modos de falar, sotaques, reações, linguagem corporal, postura, e até pela maneira como elas reviram os olhos. A atriz entrega cada uma de suas personagens de maneira extremamente convincente. Há cenas em que ela faz uma clone se passando por outra e é embasbacante como ela consegue transparecer quem está, de fato, presente em sua cabeça. As interações entre as clones são de tirar o fôlego quando você percebe por quantos anos a atriz teve que manter a disciplina de saber trocar entre tantas personagens diferentes e fazer a mesma cena por várias perspectivas individuais.

Para todas as cenas em que ela precisava atuar consigo mesma, outras atrizes foram utilizadas para criar as interações e tudo se mesclava na pós-produção. Processo que consome bastante tempo e exige bastante dedicação, mas o resultado é incrível. Há uma cena icônica no final da quarta temporada em que as clones principais se encontram e dançam juntas, cada uma dançando a sua maneira. É uma cena que mostra, apenas pela dança, como cada uma é diferente e, não só isso, nos ensina sobre a personalidade de cada uma.

As relações entre as sestras (apelido que as clones se dão) são ótimas. Maslany e o co-criador da série Graeme Manson criaram juntos uma história de vida para cada uma delas, imaginando como foram suas vidas e como foram educadas, procurando entender a fundo o que as levou a serem quem são.

“Orphan Black” é uma série incrível, com personagens excelentes que te prendem durante as cinco temporadas. Com um bom time de atores, uma atriz principal fenomenal, uma trama intrigante e um final excelente (coisa que nem toda série tem), a obra disponibilizada no Brasil pela Netflix tem grande poder de entretenimento e deve agarrar a atenção do espectador.

Bruno Passos
@passosnerds

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