Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 01 de abril de 2020

Crimes na Madrugada (2017): tiros, porrada e farinha

Um filme que questiona a moralidade policial de forma morna e rasa, mas que apresenta personagens femininos fortes, apesar desses não terem seus devidos destaques.

O gênero policial é um clássico do cinema e ultimamente tem sido explorado através de uma espécie de “fórmula” que se repete algumas vezes: o questionamento da ética e da moral do detetive, ou seja, o “good cop” que demonstra ser “bad” e corrupto. É a partir dessa estrutura que se baseia o longa-metragem “Crimes na Madrugada”. O título pode sugerir uma narrativa com muitas histórias, polifônica (como no famoso filme “Crash- no Limite”), mas, apesar de muitos crimes acontecerem, tudo gira em torno de um inicial e principal. Este gera um efeito dominó quando dois policiais roubam uma mala cheia de cocaína, com valor estipulado em 8 milhões de dólares. 

Após o ponto de partida, o espectador passa a acompanhar o protagonista Vincents Downs (Jamie Foxx) tentando resolver a maior consequência que seu roubo causou: o sequestro do seu filho pelos donos da cocaína roubada. Na verdade, são duas gangues e uma iria vender para a outra, ou seja, problemas em dobro. Tudo isso enquanto tenta driblar a investigadora da corregedoria, Jennifer Bryant (Michelle Monaghan), que suspeita de seus “desvios de conduta”. Ela é a clássica heroína incorruptível que quer combater o tráfico. Além disso, a mãe do seu filho e ex-esposa, Dena (Gabrielle Union) também o procura para saber o que está acontecendo. Tudo tem como cenário principal um hotel cassino em Las Vegas, banhada por uma fotografia estourada por luzes, cores e brilhos, mas nada fenomenal.

O longa apresenta todos os elementos que se espera do gênero, como muita perseguição, tiros, batidas de carro e, é claro, lutas. Essas últimas, por vezes, fracas e pouco críveis. E válido destacar uma que ocorre na cozinha e causa mais humor que angústia, devido a uma quantidade exacerbada de farinha voando para todos os lados e os combatentes parecendo palhaços de circo de tanto pó branco na cara, exemplificando certa breguice da direção, que se perpetua em outros elementos da obra. A aflição, no entanto, é provocada pelas inúmeras ocasiões em que o protagonista consegue recuperar o filho, porém logo depois o perde novamente. Essas situações e o fato de Bryant achar a cocaína que seria usada para recuperar o garoto, leva o personagem a tentar enganar os chefões do tráfico de maneira cômica e tola. 

Nota-se um trabalho competente da equipe de maquiagem, criando os machucados e ferimentos bem realistas com destaque para uma espécie de deformidade no pescoço de um traficante. Mesmo sendo sutil, cumpre o propósito de adicionar um subtexto e camadas a um personagem torturador e extremamente cruel.

As atuações e personagens que mais se sobressaem são as femininas que, apesar de enganadas pelos homens, literalmente salvam o dia. Ainda que tenha um final fechado e resolvido, ele deixa uma brecha para que um ciclo continue e vários departamentos dentro da lei sejam comprados pelo tráfico, fazendo com que as ilegalidades sejam encobertas e protegidas. 

Pode-se dizer que é uma obra que cumpre seu papel e o que promete como entretenimento. Para quem busca pelo gênero vai encontrar o que procura, mas nada além e talvez sinta falta de um elemento inovador, mas se sentirá razoavelmente satisfeito. 

Maduda Freitas
@MadudaFreitas

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