Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 30 de março de 2020

Do que os Homens Gostam (2019): vinte anos atrasado

Mostrando o lado das mulheres por meio de ideias ultrapassadas, o diretor Adam Shankman apresenta um remake muito pior do que a versão original.

No ano 2000, Mel Gibson era um dos principais galãs de Hollywood. Foi protagonista de “Do Que as Mulheres Gostam”, interpretando um homem que ganha a habilidade de escutar o que as mulheres estão pensando. Muita coisa mudou na sociedade em vinte anos. Certas piadas e comportamentos não são mais aceitos. Seguindo caminho contrário dessa evolução, o diretor Adam Shankman (“Rock of Ages: O Filme”) achou apropriado contar o outro lado dessa história em “Do Que os Homens Gostam”, um remake do original.

Dessa vez, a história gira em torno de Ali Davis (Taraji P. Henson), uma empresária que trabalha em uma agência esportiva que conta com 99% de funcionários do sexo masculino. Ela é responsável por fechar o contrato com diversos atletas olímpicos, mas seu trabalho ainda não é considerado bom o suficiente por seu chefe. Assim, ela segue lutando contra um sistema que funciona a favor dos homens.

Para tentar se destacar e conseguir virar sócia da empresa, ela conta com a ajuda de Brandon (Josh Brener), seu fiel assistente, para assinar um contrato com um novo cliente: o jovem Jamal (Shane Paul McGhie), um talentoso jogador de basquete,  e seu pai/empresário Joe ‘Dolla’ Barry (Tracy Morgan). Enquanto isso, ela se envolve com Will (Aldis Hodge), um pai solteiro e que trabalha como barman em um pub.

Para afogar as mágoas, Ali encontra as amigas e se consulta com uma taróloga. Após tomar um tipo de chá alucinógeno, ela vai para uma balada, fica bêbada e bate a cabeça. Quando acorda, percebe que está escutando tudo o que os homens pensam. A maioria dos comentários são sobre o corpo dela ou coisas vergonhosas, como pessoas fingindo que estão trabalhando, por exemplo.

A premissa contém as melhores piadas do filme, mas cansa logo pelo texto raso.  Com o novo talento, Ali passa a usar a qualidade para o seu próprio bem, seja em um relacionamento ou no trabalho. Ela consegue falar tudo aquilo que os personagens masculinos estavam esperando, conseguindo agradar em todas as negociações. Isso tudo até ela se atrapalhar como em uma típica comédia pastelão.

Com um roteiro baseado em estereótipos, incluindo piadas machistas e homofóbicas, a impressão que passa é a de que o filme foi feito com um atraso de vinte anos. Para piorar, o texto de Jas Waters (da série “Kidding”) e Tina Gordon (“A Chefinha”) explica informações mais do que precisa. Se o título já não entrega o suficiente, antes da grande mudança, ela declara que “queria muito saber como lidar com os homens” e pouco depois, um deles responde: “parecia que você sabia tudo o que eu queria”. Não é nem o espectador seja conduzido pela mão, são muitos níveis acima. Ele praticamente é segurado no colo, da forma mais desnecessária possível.

A crítica direcionada ao sexismo é clara e recorrente. Se o personagem de Mel Gibson aprendia sobre a importância da empatia, no filme atual, a empresária entende melhor sobre o seu próprio comportamento. Porém, Taraji P. Henson atua de maneira exagerada e todos os clichês estão por aqui, desfazendo os poucos pontos positivos que a narrativa possui.

Ao invés de atualizar a proposta da produção original, “Do Que Os Homens Gostam” retrocedeu. Com um universo de possibilidades, Adam Shankman preferiu repetir para não inovar. Só que fez de um jeito muito pior.

Fábio Rossini
@FabioRossinii

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