Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 09 de março de 2020

Troco em Dobro (Netflix, 2020): ação pouco inspirada

Em novo longa-metragem de ação da Netflix, o diretor Peter Berg apresenta uma história no modo automático. Protagonista Mark Wahlberg segue o mesmo padrão, sem empolgar.

Não é de hoje que a Netflix tem apostado em filmes de ação descompromissados. Recentemente, foram lançados “Esquadrão 6”, “Fratura”, “À Queima-Roupa”, entre outros. A novidade fica por conta de “Troco em Dobro”, uma adaptação do romance “Wonderland”, escrito por Ace Aktins. Os próprios diretor Peter Berg (“Hancock”) e protagonista Mark Wahlberg já trabalharam juntos em outro filme do mesmo gênero: “22 Milhas”.

A trama conta a história de Spenser, um ex-policial que começa uma investigação independente para descobrir um caso de corrupção e abuso de poder do chefe de polícia John Boylan (Michael Gaston). Na busca pela verdade, ele se exalta, agride o capitão e é condenado a cinco anos de prisão.

Depois de passar um período difícil na cadeia, principalmente enfrentando o detento Squeeb (Post Malone, em uma rápida participação) – não é fácil ser uma pessoa a favor da lei em um ambiente assim -, ele passa a morar na casa de Henry (Alan Arkin), seu amigo e ex-treinador de boxe. No local, inicia o treinamento de Falcão (Winston Duke) enquanto investiga novos casos envolvendo Boylan.

Além disso, o personagem principal ainda tenta fugir da sua ex-namorada Cissy (Iliza Shlesinger), vista como uma pessoa ameaçadora. Após um agente ser assassinado e receber a culpa injustamente, Spenser busca a família da vítima para fazer justiça.

Sim, é muita informação. No final das contas, tudo acima está embalado em um roteiro recheado de piadas, brigas e cenas de ação desenfreada, escrito por Sean O’Keefe (em seu primeiro longa-metragem) e Brian Helgeland (“Lendas do Crime”).

Ainda bem que os roteiristas não tratam o texto com seriedade, brincando com padrões de filmes do gênero que são abandonados conforme o tempo passa. Em uma época com smartphones filmando em 4K, a câmera de segurança ainda mantém uma qualidade horrível e não dá para ver a placa de um carro, por exemplo.

Em outra cena, Spenser tenta roubar um HD de uma loja com as imagens de uma câmera de segurança. Os registros, no entanto, são enviados para a nuvem, causando uma confusão mental inacreditável no ex-policial, que questiona a localização dessa nuvem para roubar. O filme é cheio desse tipo de cena: tão infames que viram o jogo e se tornam divertidas.

As cenas de ação poderiam ser mais trabalhadas. Na maioria delas, o protagonista está apanhando de alguns capangas e consegue virar o jogo, sempre na mesma fórmula. A espera por um estopim não é recompensada. Quando as coisas começam a ficar interessantes, o diretor coloca uma marcha lenta para apresentar um enorme flashback ligando o protagonista ao motivo da sua prisão.

Por muitas vezes, o roteiro se torna explicativo demais, muito didático. Após uma briga, o ex-policial praticamente pega na mão do espectador e explica os próximos passos: “Agora vamos expor o crime, inocentar a vítima e encontrar os culpados”. Tudo isso com uma subtrama completamente sem nexo em que Spenser tenta tirar uma carteira de motorista de caminhão para dirigir pelas estradas até o Arizona.

“Troco em Dobro” não é um grande filme de ação, nem um grande filme de comédia, mas consegue ficar em um meio termo nos dois casos. Mesmo no caso de “esquecer o roteiro e curtir um entretenimento”, existem opções melhores na Netflix.

Fábio Rossini
@FabioRossinii

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