Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 15 de fevereiro de 2020

Titãs (Netflix, 2ª Temporada): super-ok

Ao tentar fazer "fan service" a série exagera na quantidade de elementos e nos entrega um verdadeiro circo, onde não é possível acompanhar nada direito e bons personagens ficam apagados.

Com uma primeira temporada que causou muita polêmica, “Titãs” inicia a sua segunda de forma incomum. Seu primeiro episódio chega com um tom de season finale, já que a primeira tinha terminado em aberta. Trigon, um vilão super poderoso e que veio com a promessa de destruir a Terra e outros planetas é sem embasamento e rapidamente destruído, fechando esse “capítulo” na jornada dos titãs, para o desapontamento do público. Os produtores avisaram que essas cenas já estavam gravadas desde a primeira temporada, essa escolha também não ajudou na transição da Rachel que é interpretada por uma atriz adolescente e que de um minuto do episódio para o seguinte claramente está mudada.

 Assim, temos uma nova jornada, começando por um encontro mais do que aprovado: Dick Grayson e Bruce Wayne. Seguido pela reabertura da “Torre”, dando o início a nova formação e treinamento dos “novos titãs”, que traz uma rotina diferente do esperado por Rachel, Gar, Jason e Dick. Enquanto isso, os outros seguem espalhados pelo país em duplas e fazendo outras coisas. Até aqui temos um bom desenvolvimento dos personagens e ritmo no roteiro, que mantém o espectador ligado e interessado no que vai acontecer.

 Toda a harmonia muda com a chegada de Dr. Luz, que causa morte e caos, e Rose, que é acolhida por Dick, filha do Exterminador. Isso faz com que Donna, Hank e Danw se unam novamente ao resto dos Titãs, enquanto Kory está resolvendo um problema sobre o seu planeta. A partir daí é que o roteiro “perde a mão”. Muitos flashbacks começam a surgir e inclusive um episódio inteiro só do passado e neles também conhecemos Aqualad e o outro filho do Exterminador, Jericó, que teve uma história com Dick, que guarda em segredo o seu final. Também há um sexto episódio somente da história de Conner, o Superboy. Esse, é produto da Cadmus, empresa de Lex Luthor, que têm como braço direito Mercy Graves, que também é vilã. Essa quebra da estrutura linear, muitos personagens novos e desmantelamento de uma trama principal em várias outras, gera transtorno no espectador e tira o foco completamente, ao ponto dos personagens principais e muito bons da primeira temporada serem quase esquecidos como a Rachel e o Gar. Outro problema é que os heróis tomam muitas decisões que são contraditórias às suas personalidades e há muitas conveniências de roteiro que não são boas o suficiente para o espectador suspender a descrença, sem contar no fator mais irritante: eles se separam, se reúnem, se separam e se reúnem novamente. 

Para os fãs de cenas de lutas, há muitas, mas aqui optaram por quantidade sobre qualidade e o resultado são coreografias forçadas e que se parecem com as lutas dos Power Rangers da década de 90, só não são mais falsas do que as perucas usadas na série. Após falharem em deter o Exterminador e a culpa corroer Dick, ele revela a verdade sobre como morreu Jericó e isso faz com que todos se afastem novamente e o abandonem, ele então passa por uma patética jornada de autoflagelação que o leva até a prisão. Uma coisa boa da série é sua abertura para discussão sobre famílias disfuncionais como os titãs são e a deles próprios, a do Exterminador e até de Mercy.

A temporada termina fechando todos os nós de forma quase satisfatória, considerando o tanto de tramas feitas e deixa um final em aberto, mas para o alívio dos fãs já está confirmada uma terceira.Sendo assim, pode-se dizer que a série continua não impressionando, como aconteceu na primeira temporada, porém, deve-se reconhecer o esforço de tentar tornar interessante, mas pecou pelo excesso. Ao que tudo indique, as primeiras duas temporadas pareceram um ensaio e preparação e agora os titãs finalmente estão prontos para decolar. A esperança é que com a experiência adquirida e o feedback, os produtores, roteiristas e diretores tenham aprendido e entreguem uma terceira temporada como a história merece. 

Maduda Freitas
@MadudaFreitas

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