Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 26 de janeiro de 2020

Night Hunter (2019): potencial desperdiçado

Suspense policial protagonizado por Henry Cavill reúne grande elenco, mas o roteiro e a montagem confusa jogam contra o próprio gol.

Night Hunter” é um mar de oportunidades perdidas. Em seu primeiro longa-metragem como diretor, David Raymond, que também assina o roteiro, conseguiu um ótimo elenco para seu suspense. A obra conta a história de Marshall (Henry Cavill), um policial que investiga a ligação de diversos casos de sequestros e assassinatos de mulheres na região de Minneapolis, nos Estados Unidos. Ele conta com a ajuda da agente Rachel (Alexandra Daddario) e do comissário Harper (Stanley Tucci).

A busca resulta na apreensão de Simon (Brendan Fletcher), um homem esquizofrênico que mantinha diversas mulheres em um cativeiro. A dificuldade para obter informações com o homem, tentando descobrir se ele tinha ajuda de um terceiro, é a proposta central do longa-metragem. Começa assim um jogo de gato e rato.

Ao mesmo tempo, Michael (Ben Kingsley) e Lara (Eliana Jones) realizam um trabalho de vigilantes, atraindo e castrando (sim, castrando) pedófilos, em uma espécie de justiça com as próprias mãos. Pouco depois, essa história será complemente ignorada.

Rachel é a única que de fato tenta entender o que se passa na cabeça de Simon, tentando várias táticas de interrogatório para tirar informações deste serial killer, que matou seis policiais, é estuprador e pedófilo. Aos poucos Simon vai se tornando um personagem caricato, como um vilão que tem múltiplas personalidades.

Henry Cavill tem uma atuação mais contida, muito por conta da proposta introspectiva do personagem. Ben Kingsley e Stanley Tucci são absurdamente mal aproveitados, com papéis rasos e que passam despercebidos. Brendan Fletcher se esforça e é o único que consegue entregar algo fora da zona de conforto, demostrando como o personagem tem múltiplas facetas. Todos os outros estão em modo automático, reféns de um texto preguiçoso.

A montagem faz com que o filme seja apenas um amontoado de cenas. Algumas não se conversam, como se fossem esquetes de um programa de humor. São desnecessárias, diminuindo o ritmo quando não precisava e aumentando o ritmo em uma cena dramática. De destaque, apenas poucas cenas de ação.

Alguns diálogos são vergonhosos, como Marshall explicando para a filha como os bandidos representam para ele a escuridão enquanto ela é a sua luz. Para finalizar, o terceiro ato conta com um plot twist com clichê de vilão tão grande que o Dr. Evil de “Austin Powers” ficaria orgulhoso.

O roteiro em si, além de mal escrito, tem diversas inconsistências. Por exemplo: a polícia regional acha que está tudo bem trabalhar em conjunto com uma pessoa que faz uma castração em outros indivíduos; um policial ajuda o criminoso em um certo ponto e é enganado da maneira mais infantil possível; o vilão nunca anda armado, mas ele sempre dá um jeito de pegar o revólver dos policiais, que deixam o objeto cair a cada cinco minutos. Nem em “Corra Que a Polícia Vem Aí!” é possível encontrar policiais tão atrapalhados e despreparados.

“Night Hunter” tinha um potencial grande com um elenco bem interessante, mas o problema é que o filme briga contra ele mesmo: o roteiro e a edição conseguem apagar qualquer resquício de ponto positivo.

Fábio Rossini
@FabioRossinii

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