Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Jumanji (1995): Robin Williams e aventuras sempre dão certo [CLÁSSICO]

A aventura que originou a franquia continua com ótimo ritmo e personagens carismáticos, mesmo com CGI datado. Acima de tudo, ainda é delicioso assistir Robin Williams fazendo o que fazia de melhor.

Lançado em 1995, “Jumanji” é um filme inspirado no livro homônimo de Chris Van Allsburg. O autor já teve outras adaptações de seus projetos chegando aos cinemas, como “Zathura – Uma Aventura Espacial” de 2005 e “Jumanji: Bem-Vindo à Selva” de 2017. Este último é uma continuação direta do original que receberá mais uma continuação em 2020 com “Jumanji: Próxima Fase”.

O filme abre em 1869, com dois jovens enterrando um jogo e rezando para que nunca seja encontrado. Cem anos mais tarde, o pré-adolescente Alan Parrish (Adam Hann-Byrd) mora numa pequena cidade americana, onde sofre bullying de meninos mais velhos que o agridem. Ele é filho do empresário bem-sucedido da cidade, dono de uma fábrica de sapatos na qual trabalha Carl Bentley (David Alan Grier), ambicioso em revolucionar o ramo com sua nova invenção. Não demora para que o protagonista encontre o objeto enterrado numa escavação próxima e, ao iniciá-lo acidentalmente com uma amiga, acaba sendo sugado para a floresta do mundo de Jumanji. Assustada, a garota foge e o garoto fica preso lá por vinte e seis anos.

O retorno somente acontece após duas crianças, os irmãos Judy (Kirsten Dunst) e Peter (Bradley Pierce), encontrarem o jogo na casa para onde acabaram de se mudar com sua tia após ficarem órfãos. Alan, então, já adulto é interpretado pela estrela Robin Williams. Assim, a aventura em si começa com novos jogadores e novos perigos que saem do jogo para ameaçar a cidade.

O filme é dirigido por Joe Johnston, que tem vasta experiência em efeitos visuais e costuma dirigir aventuras de ótimo ritmo e cheias de carga nostálgica, tendo capitaneado obras como “Querida, Encolhi as Crianças” e “Capitão América: O Primeiro Vingador”. Suas habilidades rendem fantásticos frutos no longa, sendo a frenética sequência de eventos equilibrada com tons humorísticos e desenvolvimento de personagens suficiente para que nos importemos com eles.

A química entre Robin Williams e as crianças funciona desde o primeiro contato, assim como a adição de Bonnie Hunt como a garota traumatizada por ter visto seu amigo ser sugado para o tabuleiro já adulta é acertada. Há um subtexto de filhos lidando com sentimentos mal resolvidos dos pais, presente nos jovens órfãos, na menina que cresceu ouvindo que era louca ou e no protagonista que via o pai como excessivamente autoritário. São elementos que funcionam e enriquecem os personagens, sendo que o uso do mesmo ator (Jonathan Hyde) tanto como pai de Alan quanto como o caçador implacável que o persegue incessantemente empresta camadas bem exploradas pelo comediante, que faz bom uso do polido texto que recebe.

Apesar da presença do consagrado humorista, muito da comédia fica com David Alan Grier, que adulto é um policial frustrado por ter ver seus sonhos irem por água abaixo. Ele, às vezes, exagera um pouco em algumas cenas, mas mantém bom equilíbrio no geral, trazendo humanidade para as mudanças sofridas pela cidade após a fábrica de sapatos, sua maior fonte de renda, ter falido. Voltar de sua “prisão” para encontrar esse cenário desolado, com sua casa ocupada por terceiros e os pais já falecidos rendem singulares momentos de drama.

Infelizmente, o CGI utilizado para que vários animais fossem trazidos à vida envelheceram muito mal, notadamente nos macacos francamente bizarros que destroem a cozinha. Entretanto, os efeitos práticos ainda são convincentes e são ótimos acessórios para que os aspectos fantasiosos pareçam reais e palpáveis.

Robin Williams ficou conhecido por seus papéis cômicos e cheios de vida, mas nesse filme, sua veia humorística não é explorada a fundo, dando lugar a outro tipo de interpretação no qual ele era mestre: um que tivesse enorme coração e humanidade e fazia todos se sentirem bem. Revisitar esses trabalhos do ator é sempre um deleite e um alento para qualquer alma, algo explorado com louvor, entregando uma aventura deliciosa para espectadores de todas as idades. Com ótimo ritmo, direção certeira, roteiro amarrado e um adorável time de atores, “Jumanji” tem infinito poder de entretenimento.

Bruno Passos
@passosnerds

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