Após a maratona que começou ao estrelar o primeiro trabalho da Marvel indicado ao Oscar de Melhor Filme, “Pantera Negra”, e que continuou como o personagem em “Vingadores: Guerra Infinita” e “Vingadores: Ultimato”, Chadwick Boseman produz e atua em “Crime Sem Saída”, longa policial sobre uma grande caçada noturna a dois criminosos.

Boseman interpreta o detetive Andre Davis, oficial que já foi avaliado pela corregedoria algumas vezes por ter atirado contra meliantes. Este fato faz com que o capitão McKenna (J.K. Simmons) o considere ideal para investigar o recente crime que resultou na morte de vários dos policiais do seu distrito. Tomado pela raiva e pelo luto, o capitão deixa bem claro a intenção de que Davis mate os criminosos, gerando um dos vários elementos que contribuem para a tensão da trama.

A dupla fora da lei é composta por Ray (Taylor Kitsch) e Michael (Stephen James), ladrões que invadem um restaurante para roubar 30 kg de cocaína, mas se deparam com uma quantidade dez vezes maior. Adicione a isso a chegada repentina e aparentemente inusitada de policiais e temos uma ótima receita para um longa que leva o espectador a levanta suspeitas de que há algo maior acontecendo por trás.

Esta, aliás, é a grande qualidade de “Crime Sem Saída”. Conforme a perseguição se desenrola, a sensação de que as coisas não são tão simples e diretas como parecem vai crescendo e a investigação mantém ótima cadência; méritos do diretor Brian Kirk, que não precisa apelar apenas para cenas de ação para fugir do marasmo. Do começo ao fim, o longa prende a atenção do espectador com revelações impactantes que aparecem nos momentos certos para que a narrativa mantenha o bom ritmo acelerado, mas não apressado. Ao mesmo tempo em que empolga pela caçada em si, também o faz pelo raciocínio do protagonista, com quem compartilhamos cada momento de desconfiança e tensão.

O roteiro ganha pontos por investir no desenvolvimento dos personagens Ray e Michael – principalmente o último, que tem sua própria investigação realizando-se enquanto procura fugir da polícia. A atuação de James é ótima e se encaixa na imponente presença de Boseman. Sienna Miller (“A Lei da Noite”) completa o time principal com sua agente de narcóticos Frankie Burns, incumbida da investigação do crime junto com o protagonista, trazendo novas implicações na maneira com que ele quer lidar com o trabalho.

Não temos aqui um filme que precisa ficar apelando para inúmeros plot twists para tentar cativar o público. Pelo contrário, tal êxito vem de um texto afiado, interpretações intensas e narrativa frenética. O roteiro só peca no final, quando precisa amarrar várias pontas soltas e o faz numa única cena demasiadamente apressada e expositiva, mas que não tira o brilho da experiência intrigante oferecida ao longo do tempo de projeção.

“Crime Sem Saída” é uma baita filme de perseguição. Enquanto ela dura, tem ótimo ritmo e mantém o espectador preso ao assento. Apesar do final corrido, que periga em dar a impressão de que o roteiro nem tenta fechar a história com a dignidade que oferece em sua maior parte, é facilmente um ótimo thriller policial de narrativa intensa e veloz que entrega inteligentes injeções de adrenalina.