Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Klaus (Netflix, 2019): obra de arte sobre Papai Noel

Animação de Natal da Netflix explica de forma criativa como surgiram as principais lendas sobre o Papai Noel.

“Escreva uma carta para o Papai Noel citando suas boas ações no ano e peça um presente para ele. Partindo do Polo Norte, na véspera de Natal, o bom velhinho vai entrar pela chaminé e deixar o embrulho debaixo da árvore natalina para todas as crianças que se comportaram”. Tais práticas, expectativas e crenças são uma tradição. Porém, de onde surgiu essa ideia? O mote de “Klaus“, nova animação da Netflix, é tentar explicar as origens dessa história.

Jasper vive uma vida de privilégios aos custos do seu pai, que tem uma empresa de correspondências. Cansado do comportamento acomodado do filho, ele obriga o jovem a criar uma filial dos correios na pequena cidade de Smeerensburg. O retorno para casa depende de uma meta: registrar o envio de seis mil cartas dos moradores locais. O local, frio e cinzento, possui uma vizinhança briguenta e cheia de rancor formada pelas famílias Krums e Ellingsboes que seguem uma tradição de ódio hereditário. Todos se odeiam e nem se lembram o motivo, o que faz com que os mais novos não estejam na escola da professora Alva e passem o tempo à toa, criando novas armadilhas para os vizinhos.

Entre os moradores da ilha, existe um que vive isolado: Klaus, um senhor que mora sozinho e tem um celeiro lotado de brinquedos. Ao tentar conhecer essa residência, Jasper deixa cair um desenho de uma criança na área. Tocado com o conteúdo, o homem solicita ao carteiro a entrega de um dos brinquedos. Assim, as crianças locais percebem que os presentes chegam após o envio de uma carta para o sujeito solitário. O outro personagem, por sua vez, percebe uma oportunidade para bater a sua meta e voltar para a cidade grande.

O diretor Sergio Pablos, já com grande experiência em animações como “O Corcunda de Notre Dame“, “Tarzan” e “Rio“, propõe uma arte com cores bem vivas para destacar o estilo cartoon. Os animadores tomaram um cuidado especial com a iluminação natural, mostrando como cada ponto de luz influencia a composição de um jeito diferente – os raios de luz são utilizados para compor a cena e causar inclusive uma sensação de profundidade.

A dublagem original ficou por conta de Jason Schwartzman, J.K. Simmons, Rashida Jones e Joan Cusack. Já em português, com a sempre excelente direção de dublagem de Manolo Rey, as vozes foram representadas por Rodrigo Santoro, Fernanda Vasconcellos, Daniel Boaventura, entre outros. Utilizando arranjos clássicos inspirados no melhor estilo “Tom e Jerry“, a trilha sonora de Alfonso G. Aguilar não deixa de ser sensível e menos festiva quando preciso.

Escrito em conjunto com o diretor e os roteiristas Jim Mahoney e Zach Lewis, o texto apresenta de forma rápida a ilha de Smeerensburg e suas particularidades. Com piadas rápidas, muito por conta do seu protagonista atrapalhado, o roteiro aborda a educação como um tema tão importante quanto a festividade em questão. Tudo muda na cidade quando a escola passa a funcionar: aqueles que não sabem escrever percebem a necessidade da escola para enviar as correspondências para Klaus e, por consequência, entendem como a instrução pode ajudar na evolução de todos ao seu redor. Ampliando a proposta de “gentileza gera gentileza”, o cineasta trata a educação enquanto uma solução para evitar que o ódio possa ter livre acesso às mentes vazias – algo visto nas pessoas que não tem acesso à leitura e acabam se tornando tão extremistas quanto seus familiares.

Sergio Pablos não perde um momento sem passar a sua mensagem, incluindo diversas transições de cenas inteligentes ao longo da obra, como armas que se transformam em cartas, simbolizando a fúria se esvaindo pelo poder do conhecimento. Em outra cena, por exemplo, uma espinha de peixe vira uma singela árvore de Natal.

Cheio de sentimentos, um ótimo timing de comédia e uma arte primorosa, “Klaus” ajuda a resgatar o espírito de criança. Nada era tão encantador quanto acordar e ver presentes debaixo da árvore em uma manhã de Natal. Nesse horário, o bom velhinho já tinha cumprido seu trabalho e estava descansando.

Fábio Rossini
@FabioRossinii

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