Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 15 de outubro de 2019

Lámen Shop (2018): perdão, família e sabores

Falando sobre amor e perdão, este simples filme é uma deliciosa imersão na cultura oriental e toca em temas delicados que saem de foco para dar espaço a cenas na cozinha.

Quando o cinema e a culinária se juntam em uma aventura, tornam-se, quase sempre, um delicioso passatempo. Eric Khoo, conhecido cineasta de Cingapura e diretor de “Lámen Shop”, já havia produzido dois outros filmes do mesmo segmento e já está bem ambientado nesse cenário. Talvez, por isto, ele conseguiu dar uma leveza ao drama e retratar através de uma viagem à cultura oriental como um desentendimento atravessa e prejudica gerações.

O longa conta a história de Masato (Takumi Saitoh), que com seu pai, tem uma loja de lámen, prato típico considerado um dos mais famosos do Japão. Seu pai tem o trabalho como a prioridade de sua vida, esquecendo assim de cuidar do relacionamento com seu filho e até de si mesmo. Enfadado, seu pai acaba falecendo e deixa a loja e alguns pertences para Masato. Ainda inconformado com a morte do pai, ele decide revirar seus pertences e encontra um diário que pertencia à sua mãe, também falecida. É a partir daí que Masato começa sua jornada de autoconhecimento e em busca de respostas sobre o passado dos pais na sua cidade natal.

Com uma bela e fria fotografia e uma trilha sonora calma, o diretor deixa claro o tom do drama que deseja passar. Para os fãs de cultura oriental, o filme é um prato cheio. E trocadilhos à parte, a imersão na tradicional cultura japonesa é algo bonito de se ver aqui. Embora possa parecer confuso, Eric intercala flashbacks da história dos pais de Masato com as descobertas que ele faz sobre a história de sua família ao lado de sua amiga blogueira. E é nessas idas e vindas que Khoo aproveita para esbanjar toda a beleza oriental.

Um ponto muito gostoso de perceber é como Eric consegue aproveitar o gancho de ser um filme que fala sobre a cozinha local e utiliza cada novo passo da trama para nos apresentar uma nova receita ou um novo ingrediente. Inevitavelmente o filme se passa, por muito tempo, em cozinhas, bares ou restaurantes, sendo uma imersão total na culinária oriental. Ao mesmo tempo em que isso é interessante, afasta um pouco o foco do drama. O espectador pode ficar perdido quanto ao assunto principal do filme: seria aprender a cozinhar ou o conflito familiar?

“Lámen Shop” é um filme simples em questão técnica, mas mesmo assim vai conseguir encher seus olhos e sua boca de água. E embora segure por muito tempo o drama, o que faz com que o espectador pouco consiga se encaixar na história, o filme é bom de saborear. É certeiro ao falar sobre amor e perdão, faz com que você pense na vida e nos deixa uma dica: “Quando a vida fica pesada demais, a beleza da natureza pode ser um bom remédio”.

André Bastos
@_drebastos

Compartilhe

Saiba mais sobre