Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 18 de agosto de 2019

Descendentes 3 (2019): sem mais barreiras

A Disney aposta novamente em sua fórmula de musicais e traz um desfecho à trilogia "Descendentes" cumprindo sua função de entreter.

Em 2015, o primeiro filme da trilogia de filmes originais da Disney Channel “Descendentes” introduziu a história de Mal (Dove Cameron, “Dumplin’”), Evie (Sofia Carson, da série “Pretty Little Liars: The Perfectionists”), Jay (Booboo Stewart, “Eclipse”) e Carlos (Cameron Boyce, da série “Jessie”), filhos dos já conhecidos vilões da Disney: Malévola, Rainha Má, Jafar e Cruela de Vil, respectivamente. O grupo vivia numa ilha onde todos os vilões são condenados a morar sem acesso à magia e envoltos por uma barreira mágica que os impede de chegar à Auradon, o reino dos heróis. Contudo, Ben (Mitchell Hope), filho de Bela (Keegan Connor Tracy) e Fera (Dan Payne) e príncipe herdeiro de Auradon, decide dar a chance de estudar no reino aos quatro filhos de vilões em sua primeira proclamação como rei, alegando que as crianças da ilha não podem ser penalizadas pelos crimes dos pais e deveriam ter as mesmas oportunidades que todos. “Descendentes 3” continua com a mesma premissa para a nova história.

Desta vez, os quatro protagonistas retornam à ilha para cumprir a vontade do, agora coroado, rei Ben e recrutam mais quatro VKs (filhos de vilões): Dizzy (Anna Cathcart), neta de Lady Tremaine (Linda Ko), a madrasta de “Cinderela”; Celia (Jadah Marie), filha de Dr. Facilier (o coreógrafo Jamal Sims), vilão de “A Princesa e o Sapo”; e os gêmeos Squeaky (Christian Convery) e Squirmy (Luke Roessler), filhos de Sr. Smee (Faustino Di Bauda) de “Peter Pan”. No entanto, quando os novos VKs saem da ilha, Hades (Cheyenne Jackson) tenta escapar pela brecha aberta na barreira deixando o povo de Auradon em pânico. Com medo de que outros vilões retornem, é proposto que a barreira da ilha seja fechada para sempre, cancelando o programa de recrutamento de novos VKs e separando pra sempre os jovens já recrutados de suas famílias na ilha. Mesmo assim, um feitiço maligno assola toda Auradon e só os VKs podem salvar o reino.

Repetindo a fórmula batida de “High School Musical”, o filme traz novos números musicais, mas à parte da primeira e da última, as demais músicas parecem desconexas com os ares das cenas. Em particular, o dueto de Hades e Mal quebra totalmente o peso e dramaticidade esperados de uma sequência dos dois. A canção de Evie também é problemática por ser descartável, uma vez que interrompe abruptamente o sentido de urgência que a história trazia naquele momento apenas para resolver um problema menor – e, sem dar spoilers, o problema apresentado nessa música teria sido resolvido de qualquer forma mesmo que Evie não tivesse feito nada.

As atuações fracas de Dove Cameron e Mitchell Hope foram sobrepujadas pela presença e carisma dos demais personagens secundários, principalmente com o retorno de China Anne McClain (“Gente Grande”) no papel de Uma. A volta de Dizzy, porém, foi um pouco decepcionante, pois o filme predecessor deixa o público esperançoso por ver um pouco mais da doçura de Anna Cathcart, mas aqui seu papel não tem nenhuma importância e desvanece perante os outros. Jay e Carlos também não acrescentam em nada à história, somente fazem volume nos números musicais. Por esse ser o último filme de Cameron Boyce, que faleceu pouco antes da estreia do longa de TV, ver o filho de Cruela perdido na trama é ainda mais lamentável.

O roteiro não ousa, expande muito pouco o universo da trama trazendo novos personagens desimportantes. No entanto, a mensagem trazida nos primeiros filmes, de não julgar as pessoas pela sua origem, é ampliada ao trazer uma personagem descendente de heróis como vilã. Essa novidade mostra mais uma vez que não importa se alguém nasceu na ilha ou em Auradon, todos são capazes de optar pelo bem ou pelo mal. E será que Auradon julgará os atos de um dos seus da mesma forma que julgou os vilões e seus descendentes? Qualquer semelhança com o mundo real não é mera coincidência.
Enquanto nos dias de hoje muito se fala sobre construir muros, a Disney deixa sua mensagem ainda mais óbvia ao colocar nas mãos dos protagonistas a decisão de fechar ou não a barreira que divide a ilha do reino de Auradon para sempre. As resoluções apresentadas, embora forçadas, provam que todos precisam uns do outros. E como diz a música de encerramento, “cara a cara conseguimos ver claramente nossas semelhanças”, basta que todos tenham oportunidade de conviver juntos para aprenderem uns com os outros e ter mais empatia.

Apesar de ser carregado de clichês, fórmulas repetidas e atuações duvidosas, “Descendentes 3” consegue ser divertido e traz uma mensagem importante. Embora peque na falta de ousadia, é capaz de nos fazer torcer por finais previsíveis.

Tayana Teister
@tayteister

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