Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 03 de agosto de 2019

Diane (2017): um terror fora do comum

Filme traz elementos inusitados, mas perde a força em seu ato final.

Fazer um filme sem ter medo de tomar decisões inusitadas, saindo do que é esperado – principalmente quando se trata da parte técnica – é um trabalho árduo. E conseguir fazer isso de uma forma satisfatória é mais difícil ainda. Porém, por mais áspero que seja, é isso que o filme “Diane” faz.

Dirigido por Michael Mongillo (“Being Michael Madsen”), “Diane” conta a história de um ex-militar, Steve (Jason Alan Smith, “The Changed”), que ao acordar em uma manhã, encontra em seu quintal uma mulher morta com uma marca ensanguentada no peito e usando apenas roupa íntima e um roupão. Steve chama a polícia, mas faz isso somente depois de tirar uma foto da mulher com seu celular. Os detetives Bernard (Dick Boland, “Welcome to Earth”) e Phillips (Margaret Rose, “The Rainbow Experiment”), com o sargento Winslow (Jim Thalman, “When the Moon Was Twice as Big”), ficam encarregados do caso, e logo descobrem que a vítima se trata de uma mulher chamada Diane (Carlee Avers, “Hear me Whisper”). Já no início da investigação, os detetives e o sargento tentam associar Diane a Steve, que, apesar de afirmar não conhecê-la, se torna o principal suspeito do assassinato.

A narrativa se desenvolve em três atos, cada um caracterizando um gênero diferente: no primeiro, um filme policial, com diálogos típicos de séries como “Law and Order” e “CSI”; no segundo, um terror psicológico; e, no terceiro, um romance cheio de melancolia. Todos esses momentos são bem dirigidos e intrigantes, embora o maior destaque seja o segundo, que se concentra no terror da história. Neste ato, Carlee Avers entrega uma atuação extraordinariamente assustadora – destaque-se a cena de seu monólogo, em que a atriz consegue falar como se estivesse olhando diretamente nos olhos do espectador –, até levando aquele que assiste a olhar para trás algumas vezes.

Essa segunda parte é tão marcante, que, quando acontece a transição para o momento romântico do filme, este acaba perdendo um pouco da sua força. Por mais que o terceiro ato do filme seja esmerado como os outros segmentos, não consegue manter uma harmonia com o resto da obra. A impressão que fica é que a produção deveria ter acabado logo depois do segundo ato, e que ele seria melhor executado como um curta do que como um longa.

Assim como transita entre três diferentes gêneros do cinema, o filme vai alterando outros de seus aspectos. As cores, por exemplo, mudam praticamente em todas as cenas. Vão desde o preto e branco, até momentos em que o vermelho é a única cor predominante. O mesmo acontece com a trilha sonora, que vai desde cenas em silêncio total, com nada além das vozes dos personagens, até músicas instrumentais extremamente impactantes. Todas essas mudanças são realizadas pela liderança de Michael Mongillo com maestria. Aliás, a direção é outro aspecto do filme que vai mudando de acordo com o gênero escolhido para cada momento, o que torna toda a experiência de assisti-lo mais interessante ainda.

“Diane” é um filme que não tem medo de inovar. Todos os seus aspectos, a cor, o uso de diferentes gêneros, a trilha sonora, os diálogos, são extremamente bem pensados e surpreendentes. Mas, apesar disso, e por mais interessante que seja a história, ele acaba perdendo a consistência em sua última parte, tendo um final que não se equipara com o resto da obra.

Ana B. Barros
@rapadura

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