Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 02 de agosto de 2019

UglyDolls (2019): um comercial de 80 minutos

Com um visual bonito e uma história fraca, "UglyDolls" é mais uma animação que poderia ser excelente, mas deve murchar fora das salas de cinema.

“UglyDolls” tem uma origem fora do cinema, e a animação parece ser uma consequência direta disso. Os bonecos, que têm certa popularidade nos Estados Unidos (mas que são pouco conhecidos no Brasil), ganham uma versão digitalizada que é – em um estranho paradoxo – muito bonita e com uma mensagem importante para o público alvo. Porém, é tudo tão raso que fica a dúvida se, no fundo, não passa de uma longa propaganda para vender brinquedos.

A história acompanha Moxy (Kelly Clarkson, “A Estrela de Belém”), uma boneca com defeito de fabricação que vive em Uglyville, uma pequena vila com outros brinquedos como ela. Seu sonho é conseguir sair dali e se tornar a boneca de uma criança de verdade, mas para isso precisará deixar o lugar onde mora e enfrentar uma série de desafios imposta por Lou (Nick Jonas, “Jumanji: Bem-vindo à Selva”), que fará de tudo para impedir que Moxy realize seus sonhos.

Com um elenco composto essencialmente de cantores, o longa tenta se beneficiar das canções para contornar a fragilidade do roteiro. O resultado são algumas cenas de musicais que conectam pequenos segmentos da história, como se o roteiro não soubesse como sair do ponto “A” e ir para o ponto “B”, e é nesse momento que alguma personagem começa a cantar. Isso faz com que uma história que já possui um conceito simples, fique menos elaborada.

Naturalmente os dubladores da versão original dão conta. As canções são agradáveis, mesmo não sendo inesquecíveis, e a dublagem nos demais momentos não fica muito para trás. Kelly Clarkson sabe trabalhar sua voz, o que torna a boneca mais expressiva. Já Nick Jonas possui uma variação menos notável, se destacando apenas quando precisa cantar.

O grande problema do filme está na pobreza narrativa. Enquanto a mensagem sobre reconhecer a beleza na imperfeição é dita de maneira óbvia em diversos das sequências musicais presentes no filme, a abordagem do roteiro para este discurso é ineficaz e esquecível. Também é problemático o clímax escolhido para o terceiro ato. Isso porque ele vem depois de outro momento muito mais significativo (levemente influenciado por “Toy Story 3”) e com um peso dramático muito superior ao apresentado no final. Assim, embora a animação possua seus méritos e consiga divertir em diversos momentos, seu potencial fica sempre a desejar.

Tudo isso faz de “UglyDolls”, uma obra que não consegue oferecer muito além de um entretenimento simples (porém funcional), bonecos engraçadinhos (o que, novamente, soa como um paradoxo) e efeitos em CGI de qualidade. Talvez seja o suficiente para vender brinquedos, mas certamente não é o bastante para um longa-metragem.

Robinson Samulak Alves
@rsamulakalves

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