Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 13 de julho de 2019

Espírito Jovem (2018): muito estilo, pouco conteúdo

Com um visual estilizado, "Espírito Jovem" traz uma narrativa simples e ordinária.

Os diretores e produtores parecem que têm uma pequena fixação em convocar a atriz Elle Fanning (“Demônio de Neon”) para filmes em que a jovem é moldada ou ao menos tentada pelo sistema. Em “Espírito Jovem”, ela vive Violet, uma moça que mora na Ilha de Wight, Inglaterra, e sonha em se tornar cantora. Para isso, se inscreve num programa de TV chamado Teen Spirit (título original do longa), e acompanhamos todas as etapas de sua jornada, alternadas entre momentos felizes e frustrações.

Estamos diante do velho clichê da jovem simples interiorana em busca do sonho, com o advento de uma amizade improvável, o alcoólatra Vlad (Zlatko Buric, “2012”), que pretende ajudá-la a chegar ao objetivo. É basicamente um “Karatê Kid” da música. Violet é Daniel San e Vlad o Sr. Miyagi. Os dois constroem uma sólida relação de cumplicidade à medida que discutem a cada segundo sobre os possíveis desdobramentos da carreira de Violet. O filme do estreante na direção Max Minghella (mais conhecido como Nick da série “The Handmaid’s Tale”) constrói uma narrativa musical, na qual cada música se encaixa em seu lugar, mas ao mesmo tempo não inova na história simplória e bastante comum, que sem dúvida foi vista inúmeras vezes.

O peso da produção se encontra na bela atuação de Fanning, que interpreta todas as canções com uma vivacidade em que as toma para si. Com um espírito bastante jovem (com o perdão do trocadilho), fluindo entre o pop e a nostalgia das batidas de uma boate dos anos 70 e 80, a fotografia brinca com o neon e o visual noturno, fazendo com que a personagem seja a luz ou, literalmente, as luzes diante do show business. Desde cedo, a alternância entre imagens da moça cantando no coral da igreja e dançando rock em seu quarto deixa claro o desejo de se libertar, buscar uma vida melhor do que a que possui. Minghella também não tem vergonha de usar e abusar dos clichês, desde a personagem olhando para o lado de fora da janela de um ônibus por longos momentos, até as paixonites frustrantes da juventude.

Porém, as relações com a mãe (Agnieszka Grochowska, “Crimes Ocultos”) e os possíveis pretendentes não são desenvolvidas, limitadas apenas às cenas de música que parecem grandes videoclipes. Grimes, Major Lazer e No Doubt são alguns dos artistas que o diretor usa a seu favor para trazer certa identidade a imagens cruas, que por vezes parecem sair diretamente de um sonho. Conveniente, o texto (também de Minghella) trabalha a dualidade de Violet, que apesar de ter diálogos fracos, se transforma quando está no palco. É a síntese do “ser artista” aplicada aqui de forma dinâmica e orgânica, sem perder os maneirismos que fazem parte de todo filme sobre estrelas em ascensão.

Em sua parte final, “Espírito Jovem” decide ir por vias seguras, apostando numa identidade visual de reality shows estilo “The Voice”. O ponto fora da curva fica a cargo do plano sequência, que mostra a ida até o palco, seguido da bela apresentação de “Don’t Kill My Vibe”, canção de Sigrid, fazendo com que a obra seja encerrada num clímax estilizado, que quando fica realmente bom, acaba.

Tiago Soares
@rapadura

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