Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 28 de junho de 2019

Pets – A Vida Secreta dos Bichos 2 (2019): repetir fórmulas não é o bastante

Longa mostra avanços na animação em si e acerta em algumas piadas, mas peca com roteiro raso que pouco acrescenta ao universo e aos personagens.

Em 2016, a Illumination lançou um filme respondendo uma pergunta que muitos donos de animais de estimação sempre se indagaram: o que será que o bicho faz quando não há ninguém em casa? O longa teve bastante sucesso, rendeu boas risadas e tinha arcos levemente relevantes para seus personagens. No entanto, sua sequência “Pets: A Vida Secreta dos Bichos 2” pouco faz para entregar um avanço nesse universo e resulta num produto mediano que vai divertir as crianças, mas deixar os pais entediados.

Max (Patton Oswalt, “Os Jovens Titãs em Ação! Nos Cinemas”), o protagonista do primeiro filme, aqui começa vivendo confortavelmente com sua dona, porém, numa montagem bem executada, ela se apaixona, se casa e tem um bebê. A chegada do pequeno Liam deixa os nervos de Max em polvorosa, pois ele morre de medo do recém-chegado que puxa seu rabo e faz outras estripulias que incomodam o canino. Entretanto, ele logo começa a andar e pronunciar algumas palavras, bastando um abraço no cachorrinho seguido de um “eu te amo” para conquistar Max. Tudo nos primeiros cinco minutos, mas o que surpreende é que agora a ansiedade do cão é direcionada a um superprotecionismo ao garoto.

O longa tenta estabelecer que Max tem ansiedade crônica, mas isso não é bem retratado e não vai fundo o bastante para gerar real preocupação na plateia. Seu “terapeuta” vem na forma de Galo (Harrison Ford, “Blade Runner 2049”), um cachorro maior e mais seguro de si que toma conta da fazenda onde a família vai passar as férias. A figura de mentor funciona na interpretação visual altiva de Galo, mas os ensinamentos acabam ficando forçados e repentinos.

Toda a jornada de Max e Galo ocupa apenas metade do filme, que é preenchido por subtramas rasas e destoantes com a cachorrinha Gigi (Jenny Slate, “Zootopia”) e o coelho Bola de Neve (Kevin Hart, “As Aventuras do Capitão Cueca: O Filme”). A canina acaba perdendo o brinquedo favorito do protagonista num apartamento lotado de gatos, e sua trama gira em torno de como se infiltrar num ambiente altamente felino para recuperar o item perdido. É um trecho que não faz absolutamente nada para o andamento da história principal e nem para desenvolvimento da personagem, mas rende boas piadas, principalmente com um laser e na cena em que Chloe (“Homem-Aranha: No Aranhaverso“) explica para Gigi como ser uma gata.

Já Bola de Neve, agora acostumado com a vida doméstica e com sua pequena dona, embarca com força nas fantasias que ela cria para ele e acredita ser um super-herói. Sua trama começa quando a cachorra Daisy (Tiffany Haddish, “Uma Aventura Lego 2“) aparece do mais absoluto nada para pedir sua ajuda em resgatar um filhote de tigre branco do circo. Essa última frase já ilustra como a história do roedor peludinho destoa do resto do filme. E não, também não há desenvolvimento de personagem aqui e a história inteira serve para apenas criar situações inusitadas onde o humor nem sempre funciona e para se interlaçar com tudo no final de maneira artificial.

É um filme bastante raso e vazio, mas o visual belo, fofo e colorido fará maravilhas para o público infantil, que irá se divertir e se distrair, mas não aprenderão realmente nada. É um longa sobre animais de estimação que não remete, por exemplo, à conexão que se sente com um bichinho. Talvez o único ensinamento aqui seja o pelo qual Max passa, mas a solução vem perigosamente fácil demais.

Infelizmente, o longa não tenta melhorar nada do primeiro, apenas o repete, o que não favorece a experiência porque, bem, todo mundo já viu o outro. Não há nada de novo que realmente prenda a atenção ou faça esta sequência se destacar. “Pets: A Vida Secreta dos Bichos 2” foi feito apenas para entreter (e não marcar) o público infantil, objetivo que atinge, é verdade, mas é uma pena perceber o potencial desperdiçado deste material.

Bruno Passos
@passosnerds

Compartilhe