Não é de hoje que o comportamento sexual das pessoas é questionado na nossa sociedade. O policiamento sobre as práticas tanto na vida privada quanto na pública, como o pensamento político ou o posicionamento sobre qualquer tema, pode virar motivo de polêmica, trazendo, por exemplo, o risco de brigas entre entes queridos ou algo ainda mais sério. “O Mau Exemplo de Cameron Post” explora as indecisões pelas quais os adolescentes passam nesta fase da vida onde surgem mais perguntas do que respostas. A diretora e roteirista Desiree Akhavan se aproveita da sua experiência em produções com a mesma temática, como no filme “Uma Boa Menina” ou na série de TV “The Bisexual”, para mostrar a história de uma jovem homossexual lidando com seus sentimentos em um retiro religioso para curar jovens com comportamento tido como “subversivo”.

Contado de maneira melancólica e reflexiva, onde imperam cenas mais lentas e arrastadas, o filme conta a história de Cameron Post (Chloë Grace Moretz, “Suspíria – A Dança do Medo”), uma jovem prestes a se formar no ensino médio em 1993, mas que acaba se apaixonando pela sua amiga Coley (Quinn Shephard, “Sol Da Meia-Noite”). Pegas em um momento íntimo – muito bem retratado em tela, por sinal -, as duas garotas acabam sendo separadas e Cameron é punida e enviada para o retiro Promessa Divina, com a expectativa de receber um tratamento adequado para o problema imposto à ela.

No local, a garota encontra pessoas com histórias semelhantes, mas todos eles devem conter seus impulsos, focando sempre na palavra de Deus e em coisas “boas”. O reverendo Rick (John Gallagher Jr., “A Justiceira”) e a doutora Lydia Marsh (Jennifer Ehle, “O Gênio e o Louco”) são os responsáveis pelo espaço, impondo uma cultura onde a homossexualidade é tratada como doença e todo tipo de comportamento lascivo deve ser contido. Além disso, as regras do lugar lembram o de qualquer regime totalitário, onde diversas coisas são proibidas e alguns benefícios são conquistados conforme se ganha a confiança dos responsáveis.

De maneira geral, “O Mau Exemplo de Cameron Post” se sai bem em mostrar todos os dilemas da protagonista. Um dos seus maiores méritos está em apresentar a ambiguidade dentro da cabeça da garota em razão da assimilação da cultura e do contato com os outros jovens da Promessa Divina. Em determinado momento, ela já passa a achar que realmente é culpada por ter se apaixonado por outra mulher e tenta apagar essa ideia seguindo as práticas do seu novo lar. Porém, por meio de sonhos eróticos com outras mulheres – um caminho que reforça as suas escolhas -, ela sente que não está errada na sua forma de agir.

A montagem empregada em diversos momentos é usada por Desiree Akhavan como recurso narrativo, primeiro ajudando a embaralhar a história – indo em voltando em alguns momentos, sem sabermos qual é a fase da vida de Cameron, se antes ou depois dela entrar na Promessa Divina –, e depois como forma subjetiva, para dar mais ritmo e auxiliar na transmissão da sua mensagem.

O comportamento dos jovens durante sua estadia no “retiro de cura” é interessante porque aborda um lado voltado para a psicologia. Tentamos entender junto com eles o porquê dessa forma de pensar; o que fizeram para nascerem assim; qual caminho seguir; como “consertar” esse problema. O mais importante para o espectador é ver todo o comportamento passível dos adolescentes. Talvez pela pouca idade, eles não se esforcem para indagar as ordens recebidas ou enfrentar o poder central. Em uma das melhores cenas da produção, é mostrado um ato de resistência de um interno rejeitado pelo pai. Suas perguntas e atos mostram existir outro caminho, com a possibilidade de questionar todo o tratamento recebido.

Explorando diversas problemáticas e apresentando uma mensagem de luta contra preconceitos e formas de imposição, principalmente contra minorias – em especial os homossexuais –, “O Mau Exemplo de Cameron Post” tem como temática principal o abuso emocional contra jovens, principalmente neste momento onde se está a um passo da vida adulta, quando estão mais vulneráveis. Levantar esse debate é uma questão cada vez mais importante, por isso é uma pena que o ritmo lento do filme não ajude na missão de torná-lo atrativo justamente para o público em que ele deveria chegar.