Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 16 de abril de 2019

O Silêncio (Netflix, 2019): não faça barulho

O diretor John R. Leonetti se apoia nos clichês de filmes pós-apocalípticos na nova produção de terror da Netflix.

É inevitável a comparação entre “O Silêncio” e “Um Lugar Silencioso”. São muitos pontos em comum: filha com dificuldade de audição, um pai preocupado, a presença de criaturas desconhecidas, a família que conhece a língua de sinais, a necessidade de fazer silêncio a todo tempo, entre outros. A principal diferença, no entanto, é bem mais fácil de escolher: a realização de John Krasinski é muito mais eficiente do que o filme do diretor John R. Leonetti (“Annabelle”).

O novo terror da Netflix é baseado no livro homônimo escrito por Tim Lebbon, lançado em 2015. Diferente da maioria dos filmes sobre apocalipse, a trama começa apresentando como surgiram as criaturas – após uma escavação, as chamadas “vespas” se libertaram de uma caverna selada há milhares de anos. Desde o início, o diretor não tem medo de mostrar os bichos de forma bem evidente, que mais se parecem com pequenos pterodáctilos. Enquanto a mídia divulga imagens sobre os ataques mortais em seres humanos, as pessoas procuram meios de sobreviver. Os apresentadores dos telejornais deixam bem claro: fiquem em silêncio e não saiam de casa.

Neste momento é apresentada a família de Ally (Kiernan Shipka, da série “O Mundo Sombrio de Sabrina”), uma jovem que perdeu a audição após sofrer um acidente de carro há três anos. Seus pais, Hugh (Stanley Tucci, “A Private War”) e Kelly (Miranda Otto, “Flores Raras”), a avó Lynn (Kate Trotter, da série “Heartland”) e seu irmão mais novo Jude (Kyle Breitkopf, “Extraordinário”) aprenderam a língua de sinais para uma comunicação melhor com Ally. Em um mundo em que fazer silêncio é algo vital para sobreviver, o grupo aparenta ter uma vantagem em relação às criaturas. Entretanto, o que começa bem, aos poucos vai ficando cada vez menos interessante graças aos clichês dos filmes pós-apocalípticos: alguém machucado, a tradicional busca por antibióticos em farmácias e a argumentação de que os outros humanos podem ser uma ameaça muito maior do que as próprias vespas.

Apresentado como um filme de terror, tirando alguns jump scares, nada assusta. A culpa é do roteiro feito pelos irmãos Carey e Shane Van Dyke (“Chernobyl”). Como todo o potencial das criaturas já é introduzido no começo, as surpresas perdem o seu impacto. Com uma ameaça previsível, fica fácil adiantar as próximas cenas. Tudo fica pior quando uma seita é apresentada e tudo ocorre tão rápido que não dá tempo de aprofundar os personagens. O design dos bichos é bem feito: com a falta de luz durante muitos anos, os animais não têm olhos, mas compensam com uma audição apurada.

O final em aberto deixa clara a vontade de Leonetti de criar uma continuação para a sua história. “O Silêncio” começa em um caminho, muda para outro e termina com uma nova proposta. Apoiado nos clichês do terror pós-apocalíptico, um dos temas queridinhos da Netflix no momento, o filme não inova, mas cumpre a sua proposta.

Fábio Rossini
@FabioRossinii

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