Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 11 de abril de 2019

Paskal – Missão Resgate (Netflix, 2018): um combate honesto

O filme militar malaio segue uma trama trivial e apresenta sequências de ação com consistência e dinamismo.

Dirigido por Adrian Teh (“King of Mahjong”) e disponível na Netflix, “Paskal – Missão Resgatefoi inspirado pela força da Marinha Real da Malásia, chamada PASKAL, uma unidade especial empregada na ação de operações de reconhecimento, resgate de reféns, assim como defesa interna (semelhante aos SEALs da Marinha dos Estados Unidos). De início, a missão de resgate contra os piratas que abre o filme lembra o excelente “Capitão Phillips” de Paul Greengrass e, mesmo com a diferença entre as produções, o longa asiático não fica muito atrás na criação de atmosfera e sequências de tiroteio.

Após a bravura da unidade, a Marinha escala Arman (Hairul Azreen, “Pak Pong”) e seu amigo Jeb (Ammar Alfian, “Langit Cinta”) para liderar uma nova equipe de investigação. Entre uma missão e outra, o roteiro tenta vagamente dar estofo aos personagens e grande parte dos momentos de respiro são destinados à relação de Arman e sua mãe. O segundo ato consiste em abordar o dia a dia do treinamento dos soldados na base naval. Embora pareça pedante, essas sequências são bem conduzidas com uma edição hábil. Os personagens são devidamente apresentados gerando uma rara empatia vista em filmes asiáticos, ainda mais no cinema de ação.

O longa evidencia a dualidade entre Arman e Jeb. Enquanto o primeiro passa confiança e companheirismo ao grupo, o segundo começa a expor seu lado bruto. A força especial passa a investigar piratas envolvidos no mercado negro nas Filipinas, e é durante essa operação que descobrem que Jeb é informante e está envolvido na pirataria. Não apenas isso, Jeb vai até a casa de Arman para intimidá-lo e tentar coagi-lo a abandonar a Marinha. Ele se recusa a debandar e, com o Capitão Michael (interpretado pelo estreante Adi Afendi), descobre que eles planejam assaltar uma plataforma petrolífera.

Longe de almejar qualquer reflexão sobre guerra e terrorismo, ou de se aprofundar em relacionamentos, toda a condução do longa aponta para a sequência de ação do clímax. Sendo assim, fica claro que o intuito é concluir com uma missão de resgate assim como a de abertura do filme. Isso fica evidente quando a narrativa, numa tentativa de forçar a tensão, revela que a esposa de Arman (Jasmine Suraya Chin, “KL Wangan”) está a trabalho na plataforma. O palco está armado. É a missão fatal que colocará à prova todo o potencial dos Paskal.

“Paskal – Missão Resgate” é franco em suas pretensões e não se desvia em personagens paralelos e subtramas. As sequências de combate, como foco principal, são calmamente executadas com planos longos. A visão espacial é objetiva e a pirotecnia aproveita o limitado orçamento. No fim, entretanto, o longa insiste desnecessariamente em diálogos de cunho moral e frases de efeito entre os dois amigos. Em certa hora, é enfatizado um personagem lendo um livro de Blaise Pascal, contudo, teria sido mais oportuno aplicar os pensamentos do escritor no roteiro do que exibir a capa apenas como referência visual. Ao filme não cabe filosofar o porquê, pois o objetivo de um Paskal é onde e como.

Jefferson José
@JeffersonJose_M

Compartilhe