Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 06 de março de 2019

Crazy Trips – Budapeste (Netflix, 2018): loucuras no Leste Europeu

Filme se esforça em ser divertido ao mostrar as aventuras de amigos na Hungria após criarem uma empresa que organiza despedidas de solteiros para franceses em busca de diversão.

Na busca de atingir maior diversidade cultural, muito em razão de estar presente em mais de 190 países, a Netflix se notabiliza por investir em produções fora dos Estados Unidos. Entre os países, a França se destaca pelo farto material produzido ou distribuído pela plataforma de streaming. Em muitos casos, a qualidade da produção nem sempre é o mais importante, pois é melhor contar com um acervo amplo para atrair mais assinantes, afinal de contas, cada um tem seu gosto, aumentando a chance de agradar alguém com determinado conteúdo. Em “Crazy Trips – Budapeste”, vemos mais um exemplo de obra distribuída pelo mundo pela Locadora Vermelha, onde a busca em atingir determinado nicho, um público mais voltado para a comédia e diversão imediata, se torna o mais importante.

O longa conta a história dos franceses Arnaud (Jonathan Cohen) e Vicent (Manu Payet). Frustrados com o trabalho maçante em escritório, os amigos encontram uma oportunidade de negócios ao não conseguirem realizar uma despedida de solteiro em Paris. Alertados por uma dançarina de 69 anos, a dupla percebe que o custo de realizar a última “grande festa” antes do casamento fica mais barata ao ser realizada em Budapeste, capital da Hungria. Por ter a moeda desvalorizada em relação ao euro, e por ser um país do Leste Europeu – onde quase tudo é permitido –, a margem de lucro de realizar qualquer evento no local, já contando passagens áreas, se torna vantajosa.

Com a Crazy Trips aberta, a dupla passa a contar com o apoio local de Georgio (Monsieur Poulpe), atuando como espécie de guia responsável por conduzir os turistas pelas atrações programadas na cidade. O fato de a empresa vender pacotes turísticos para homens em despedida de solteiro, em um país distante, investindo na ideia de libertinagem total, atrai os clientes mais malucos possíveis. As atividades, para quem se dispõe a comprar um pacote, incluem tiros com armas de grosso calibre, passeios com tanque de guerra, festas em bares regados a drogas e garotas de programa, e acabam levando o primeiro grupo de viajantes a uma confusão que resulta em um prejuízo de 35 mil euros para os sócios da empresa.

Dirigido por Xavier Gens (“Cold Skin”), os problemas de “Crazy Trips – Budapeste” são muitos. A drama demora em se desenvolver, principalmente no segundo ato, quando Arnaud e Vicent vão pela primeira vez para a capital da Hungria montar o tour. São mais de trinta minutos com piadas mal encaixadas e uma história lenta. Quando a narrativa resolve se acelerar, muito tempo foi perdido. As fórmulas exploradas são muito repetidas: a história de pessoas ricas indo explorar um país menos desenvolvido, aproveitando de sua população, quase sempre menos instruída e ávida por recursos vindos do exterior. Parte das piadas lembram do filme “Eurotrip”, que em 2004 fez ótimas referências a desvalorização do câmbio no Leste Europeu, neste caso na Bratislava.

Vencido o segundo ato, após ver a empresa crescer, surge um tom mais divertido no filme, com piadas melhor encaixadas e uma narrativa mais fluída. Neste momento ocorre uma nova transformação; o foco do enredo passa para o dilema de Vicent e Arnaud. Eles conseguirão resistir as tentações da capital da Hungria e se manterão fiéis a suas esposas Audrey (Alix Poisson) e Cécile (Alice Belaïdi)?

O balanço geral de “Crazy Trips – Budapeste” apresenta um filme divertido, com algumas boas piadas, mas com um claro problema de foco e de enredo. Seu final se torna facilmente previsível, destaque apenas para o aumento do papel feminino de Audrey e Cécile na conclusão da história. O filme é uma escolha divertida para quem busca algo simples, sem precisar fazer grandes conjunturas ou entender tramas complexas. Ideal para uma parte importante do público almejado pela Netflix.

Filipe Scotti
@filipescotti

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