Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Rota de Fuga 2: Hades (2018): escapada desorganizada

Segundo filme da franquia estrelada por Sylvester Stallone revela-se apressado demais e repleto de ideias precárias, fazendo de tudo para estimular a fuga do público.

Sylvester Stallone (“Creed II”) veio a público – mais precisamente através de sua conta no Instagram – para anunciar o fim das gravações de “The Extractors”, terceiro exemplar da franquia “Rota de Fuga”. Nos comentários, um seguidor disse esperar que esse fosse melhor que o anterior. Sly, sem pestanejar, concordou dizendo: “Espero também. ‘Rota de Fuga 2: Hades‘ foi pior do que horrível!”. Quando o próprio protagonista afirma que o filme é ruim, devemos levar em consideração. Enquanto o início da franquia surgiu como uma passatempo divertido mais por conta da reunião nostálgica entre Stallone e Arnold Schwarzenegger (“O Exterminador do Futuro: Gênesis”) que pelo longa em si, sua sequência esnoba a excelente dinâmica criada pela dupla de veteranos, apostando num sangue jovem que não dá conta e que, para piorar, é sabotado por uma narrativa pobre em ideias, efeitos e desenvolvimento.

Anos após escapar do complexo penitenciário denominado A Tumba, o especialista em testar prisões de segurança máxima, Ray Breslin, deve voltar à ativa para resgatar um dos membros do seu time, que foi sequestrado e levado para Hades, uma versão 2.0 do inferno do qual ele escapou uma vez. Superestimando o potencial da série, que só ganhou uma segunda chance de continuar graças ao impulso dado pelos maiores astros de ação dos anos 80, o argumento escrito por Miles Chapman (também criador da história e dos personagens) se perde em escolhas preguiçosas e sem nenhuma novidade. Partir de uma premissa semelhante não é o pior dos defeitos quando transformar o protagonista num coadjuvante é uma opção. Sem o peso e o carisma Schwarzenegger e com um Stallone rebaixado a figura de guru, a tarefa se torna bem complicada.

Jogando para escanteio sua maior estrela e apoiado em um roteiro que tenta expandir as ações do anterior, mas que demonstra ser incapaz de se reinventar, “Rota de Fuga 2: Hades” arrasta-se exaustivamente ao longo de sua 1h30 de duração. As cenas dentro da prisão se repetem com frequência, a concepção do lugar é oca e sem atrativos que permitam jogar com os prisioneiros. A narrativa aposta em brigas e mais brigas, diálogos terríveis e efeitos especiais risíveis. Nada parece funcionar naquele ambiente. E quando a produção enfim apresenta o grandalhão Trent DeRosa (Dave Bautista, “Guardiões da Galáxia”), para fazer as vezes de Schwarzenegger, é, com certeza, uma das poucas escolhas adequadas, que não demora a ser mais uma ideia desperdiçada, já que o personagem entra em cena poucas vezes, e quando aparece é tarde para lidar com tantos obstáculos.

A narrativa não se propõe nem a testar o desempenho da dupla Stallone-Bautista, que poderia emular o que foi feito anteriormente. Uma pena, pois nos raros momentos em que apresentam-se juntos, ou quando estão agindo sozinhos, são as situações em que o filme passa mais confiança e ameaça entregar algo momentaneamente relevante. Os diálogos, por exemplo, saindo da boca de um dos dois, entra naquele caso em que de tão ruim se torna bom, porque evoca uma nostalgia das velhas conversas dos anos 80-90, onde o que importava era apenas entregar uma frase de efeito que logo terminava com uma briga monumental. Incapaz de aprender com o passado, não se sabe para onde ir no futuro. E a direção afobada e confusa de Steven C. Miller (“Assalto ao Poder”) é outro ponto que prejudica a experiência. Miller acaba impondo tanta energia na câmera que, aliada à montagem desenfreada, impossibilita compreender qualquer tipo de combate.

Rota de Fuga 2: Hades” é uma daquelas sequências que não deveriam ser feitas e, fosse feita, deveria ao menos saber usufruir as coisas boas que proporcionaram haver uma segunda jornada. Embora Stallone e Bautista tentem promover algo, no mínimo, agradável, o filme prefere arriscar suas cartas em gente pouco conhecida e que parece estar ali apenas por obrigação. Os coadjuvantes não mereciam nem serem citados, pois o trabalho deles é irrelevante e as interpretações beiram o miserável. Zero carisma para levar uma produção tão curta – para os padrões hollywoodianos – até o seu destino final. Stallone já não é mais o cara que arrasta multidões ao cinema, mas com o terceiro filme já anunciado e o reconhecimento público de que esse segundo foi um fracasso, o espectador espera ser entretido pela mesma coragem e cafonice da ação dos anos 80. Ah, os anos 80…

Renato Caliman
@renato_caliman

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