Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

O Natal do Charlie Brown (1965): o desenho que se tornou tradição norte-americana [NATAL]

A jornada de Charlie Brown para encontrar o verdadeiro significado do Natal é o primeiro desenho animado dos queridos personagens de Charles M. Schulz e um símbolo clássico de referência à data comemorativa.

O Natal do Charlie Brown” é um evento marco para a história dos Peanuts, a famosa turma do Snoopy e Charlie Brown, pois foi o primeiro filme de animação criado a partir dos personagens do cartunista Charles M. Schulz. Ele foi concebido como um especial para televisão exibido pela primeira vez nos Estados Unidos em dezembro de 1965. Pelo sucesso que fez, a obra se tornou uma tradição natalina para a cultura norte-americana e abriu espaço para mais desenhos animados sobre o melancólico menino e seus amigos.

A história começa com os Peanuts aproveitando as férias e o inverno do hemisfério norte para brincar na neve e patinar no lago congelado. É então que Charlie confessa a seu melhor amigo Linus que não se sente feliz como deveria se sentir nessa época do ano. Sobre esses primeiros minutos de filme já há observações memoráveis para se fazer. No início dos anos 1960, as tirinhas de Schulz estavam no auge do sucesso e seus personagens só haviam sido animados antes em comerciais da Ford. Para tal novidade, o produtor Lee Mendelson contratou Bill Melendez, que já tinha sido o responsável pelas animações para a montadora de automóveis e era o nome de confiança de Schulz. Eles trabalharam primeiro num documentário sobre o cartunista, mas que não foi exibido, e em seguida no especial de 1965 sob patrocínio da Coca-Cola.

Para a animação, os realizadores inovaram ao contratar crianças para dublarem os personagens do especial, responsabilidade que na época era exclusiva a atores adultos. O nervoso, inseguro e sofredor Charlie Brown, cuja expressão recebia críticas por parecer um adulto num corpo de menino, havia acabado de ganhar uma voz realmente infantil. Além disso, o desenho também se destacou por incluir uma trilha de jazz criada por Vince Guaraldi, que viraria marca dos desenhos animados dos Peanuts, misturada com canções natalinas, já que o objetivo de Schulz para o especial era mostrar o verdadeiro significado do Natal.

Em “O Natal do Charlie Brown”, o protagonista alter ego de Schulz recebe um conselho da mandona Lucy, personagem de características psicológicas muito próximas às da primeira esposa do cartunista segundo o livro “Schulz & Peanuts: a biografia do criador do Snoopy” escrito por David Michaels. Ela sugere que Charlie participe de uma peça teatral de Natal como diretor e essa então se torna a meta do famoso menino perdedor. A jornada de Charlie na produção da peça traz consigo uma moral cristã que, assim como as vozes infantis e a trilha de jazz, não era um elemento comumente associado a desenhos animados.

O roteiro de Schulz segue a façanha de Charlie Brown, mas inclui diversos momentos curtos que parecem transpor diretamente conteúdos de suas tirinhas. A crítica que permeia a história é sobre a comercialização do Natal e a dificuldade de entender o que a data comemorativa realmente significa. Lucy cobra pelo atendimento na sua banquinha de ajuda psiquiátrica e confessa querer imóveis como presentes de Natal. Sally, a irmã mais nova de Charlie, faz uma longa lista de pedidos ao Papai Noel, mas diz que aceita o equivalente em dinheiro. São nestes curtos momentos de diálogo que o cartunista reflete sua visão e seus insights sobre o que é ser humano através das suas criações.

O especial “O Natal do Charlie Brown” ganhou um prêmio Emmy como melhor programa infantil e, em homenagem ao 50º aniversário do filme, a estética da animação de Melendez ganhou uma nova versão digital e 3D em “Snoopy e Charlie Brown: Peanuts – O Filme”, levando o espírito dos personagens de Schulz aos cinemas para a apreciação saudosista de fãs e de mais uma nova geração de espectadores.

William Sousa
@williamsousa

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