Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 28 de novembro de 2018

A Noite Nos Persegue (Netflix, 2018): qual o limite do sadismo?

O longa de ação indonésio faz um exercício elaborado de coreografia enquanto o excesso de sangue e mutilação explícita causa repulsa.

Desde o lançamento de “Operação Invasão”, o cinema asiático tem desfrutado de grandes sucessos de ação e lançado atores ao estrelato, como foram os casos de Joe Taslim (“Star Trek: Sem Fronteiras”) e Iko Uwais (“22 Milhas”). Aqui, o diretor Timo Tjahjanto (“Fortuna Maldita”) veio para reunir novamente os dois atores, além de reforçar sua assinatura de porradaria. Ele filmou “A Noite Nos Persegue” com esmero nas coreografias, muito bem executadas sobre a paleta azul do néon em contraste com o vermelho do sangue jorrando, porém, a sucessão de brigas ficam vazias sem uma história para ligar os eventos. Mais parece uma intenção de impactar do que elevar o gênero.

Ito (Joe Taslim), um capanga de elite da Tríade, a máfia chinesa, após poupar a vida da garota Reina (Asha Kenyeri Bermudez) durante um massacre, se torna alvo do ataque dos criminosos conhecidos como Seis Mares. Para tentar sobreviver, ele volta para Jacarta, sua cidade natal, e conta com sua namorada e seus amigos para se defender. Ele tem a crueldade, a força e a inteligência para ser o melhor dos assassinos, mas o que o impede de continuar é seu coração. Ito ganha reforço quando seu amigo e também assassino Arian (Iko Uwais) se junta a eles nesse conflito fatal.

Enquanto a motivação da Tríade é a vingança contra seu desertor, Ito vê na proteção da garotinha sua redenção – o velho caso do herói que se sacrifica. A trama é extremamente desinteressante, e o roteiro, também de Tjahjanto, pouco se importa em apresentar os personagens ou levá-los à uma jornada. O filme mais parece um jogo de Street Fighter, onde os protagonistas ficam encurralados, e capangas brotam aos montes de todos os lados. Uma luta acaba apenas para que Ito se recomponha e, minutos depois, inicie outra, com muitas caretas e diálogos que escancaram a falta de empatia dos personagens.

A produção foi desenvolvida primeiramente como uma graphic novel, uma típica situação onde primeiro pensam em cenas mirabolantes de ação para depois editar com pequenos intervalos. Há todo tipo de facas para os mais diversos tipos de mutilação, as armas só são usadas para fuzilamento. Só faltou um tom sobrenatural para abraçar o terror gore. Mas é louvável a vazão que a Netflix tem dado a produções pesadas.

Um dos melhores trabalhos do diretor continua sendo “Headshot”, onde ele conseguiu refinar esse estilo de luta sem o exagero de sangue. Em “A Noite Nos Persegue” ele filma as sequências de ação com planos longos, usando os ângulos para que o espectador se sinta dentro da ação, nada de câmeras tremidas como Hollywood tem usado frequentemente. Iko Uwais, que também é coreógrafo das lutas, apesar da participação curta, reafirma seu lugar no panteão de grandes lutadores ao lado de Jackie Chan, Jet Li e Tony Jaa. Embora haja um público que aprecie esse tipo de cinema, é bom lembrar que o sadismo deve ser ponderado na concepção da narrativa.

Jefferson José
@JeffersonJose_M

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