Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Pai em Dose Dupla 2 (2017): só mais uma comédia de natal

Protagonizado por Mark Wahlberg e Will Ferrel, "Pai em Dose Dupla 2" ganha mais dois nomes interessantes: Mel Gibson e John Lithgow. Essa adição é o suficiente para ser melhor do que seu antecessor?

Raras são essas simples comédias americanas que realmente conseguem universalizar seu assunto. Várias parecem ter parado nos anos oitenta e noventa, e poucas recentes merecem destaque. “Pai em Dose Dupla 2” é dessas que não merecem tanta evidência, mas que também não são de todo mal.

O filme é a continuação do homônimo de 2015 e prossegue abordando a tentativa de Dusty (Mark Wahlberg, de “O Dia do Atentado“) e Brad (Will Ferrell, de “Zoolander 2“) conseguirem criar uma família confusa, ao ponto ser difícil saber quem é filho de quem. Brad é casado com a ex-mulher de Dusty e, além de seu filho com ela, cuida dos filhos de Dusty que, por sua vez, se casou novamente e cuida da filha de sua atual esposa com Roger (John Cena, de “Na Mira do Atirador“), seu ex-marido. O texto confuso que você acabou de ler, fica mais confuso quando entram mais dois pais na jogada, no caso os avôs, Kurt (Mel Gibson, de “Os Mercenários 3“) e Don (John Lithgow, de “Armas na Mesa“).

A confusão criada pelo plot remete um pouco ao clássico “Férias Frustradas“, de 1983, mas só consegue ir além da piada boba umas duas vezes no máximo. Em uma delas, aposta na piada do dilema, ou seja, quando nenhum caminho escolhido é o correto e o espectador pega-se culpado por ter achado graça da situação. Para exemplificar: numa discussão se o garoto pode ou não ter armas, a menina Megan (vivida muito bem por Scarlett Estevez desde o primeiro filme), grita que quer uma arma e quer caçar. Todos se assustam e Kurt, extremamente machista, é totalmente contra a ideia, iniciando uma nova discussão. Se você aceita a visão do Kurt, o sexismo ganha. Caso contrário, a outra pauta complicada ganha, no caso a armamentista e da caça. Um dilema divertido de acompanhar, confesso. A outra piada, envolvendo religião, deixo para quem for assistir ter a surpresa.

Um pequeno trunfo da continuação é avançar de acordo com o resultado do primeiro filme. Se Dusty e Brad terminaram bem e se acertaram de alguma forma, isso vem direto na discussão deste, não tornando o anterior descartável mais do que já é, e dando substância à entrada dos novos personagens. Pena que rapidamente esse avanço é desfeito e a temática passa a ser praticamente a mesma do antecessor.

Resta, então, analisar o elenco lotado de nomes fortes. Mark Wahlberg sempre agrada nesse papel do homem comum e funciona melhor ainda quando é escado para a piada, além de ter linhas sarcásticas e de colocá-las muito bem na cena. Will Ferrell é o mais do mesmo que cansou e mais uma vez aposta no humor físico e fácil. John Lithgow, por outro lado, emula Ferrell mas vai muito bem, pois é fruto da quebra dos seus papéis mais recentes, como o de Churchill na série “The Crown” e, mesmo que não tão recente, do memorável Trinity, da quarta temporada de “Dexter“. Mel Gibson cumpre tabela ao entregar o mesmo sarcasmo de seus outros papéis em comédia e se destaca quando está reagindo às falas dos outros atores, mesmo quando não é o protagonista da cena.

Mais uma vez as mulheres são colocadas de lado em “Pai em Dose Dupla 2” e desta feita é notável a tentativa de criar algumas cenas para elas. A investida não se mostra substancial para a história e o tiro acaba saindo pela culatra mais incisivamente do que no primeiro. Sean Anders, diretor e roteirista desse daqui, aponta para o mesmo em “Os Pinguins do Papai” e “A Ressaca“, ambos escritos por ele. No caso de “… Dose Dupla“, isso seria facilmente resolvido se fosse dado um tempo maior em situações mais gerais de elenco, como na sequência do boliche ou da organização da casa para o Natal, afinal são desses momentos que saem as melhores piadas. Contrariando isso, a maioria das sequências construídas acabam sempre terminando em uma gag de virada óbvia, levando o filme para outro ponto da história, encerrando o assunto e evidenciando a falta de comprometimento com os ambientes e os momentos daquela família.

“Pai em Dose Dupla 2”, para dar certo e superar o seu primeiro, teria que se transformar da água para o vinho. Como não conseguiram, ficam os elogios ao elenco e à algumas situações de dilema que são colocadas na trama. Porém, nada mais do que isso.

Raphael PH Santos
@phsantos

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