Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 01 de julho de 2017

Homem-Aranha: De Volta ao Lar (2017): o verdadeiro amigão da vizinhança

Com um filme extremamente competente e divertido, a parceria da Sony com a Marvel aponta para o futuro das adaptações dos heróis "perdidos" da Casa das Ideias!

O nome não poderia ser mais apropriado: “Homem- Aranha: De Volta ao Lar” é um título que representa a volta do cabeça de teia tanto para a Marvel, quanto para suas origens “quadrinísticas”. Criado por Stan Lee e Steve Ditko na década de 60, como um adolescente comum que é picado por uma aranha radioativa e que recebe poderes carregados de responsabilidades. O cerne do personagem original era a busca pelo equilíbrio em viver a sua – atribulada – vida cotidiana, com seus percalços financeiros, amorosos e estudantis, ao mesmo tempo em que se sentia impelido a ajudar os incautos de sua cidade do coração, Nova York, com seus novos poderes adquiridos. E é explorando, com muita criatividade e bom humor, essas características marcantes do aranha, que a parceria entre a Sony Pictures e a Marvel Studios mostra-se uma bem sucedida e exemplar empreitada.

Peter Parker (Tom Holland, de “Z – A Cidade Perdida”) é um jovem de 15 anos, que já teve a inacreditável experiência de lutar ao lado dos Vingadores em “Capitão América: Guerra Civil”. Ansioso para integrar definitivamente o super grupo, ele é colocado em “modo de espera” por Tony Stark (Robert Downey Jr.) e recebe a missão de – apenas – ajudar a “vizinhança” em pequenas ocasiões e é orientado pelo Homem de Ferro a não se envolver em grandes confusões. Tentando viver uma vida colegial comum, Parker conta com a amizade sincera do c.d.f. Ned Leeds (Jacob Batalon) e a paixão nada escondida por Liz Allan (Laura Harrier), porém sua ânsia por ser um grande e reconhecido super herói é tão grande, que ele acaba desobedecendo as ordens de seu “mentor” e se vê enredado em um caso de contrabando de armas “alienígenas”, capitaneado pelo impiedoso vilão Abutre (Michael Keaton, de “Birdman”).

A aposta do roteiro escrito por – pasmem – cinco roteiristas diferentes, em focar na indefinição de Parker entre sua vida cotidiana e a heroica é o grande acerto do filme. Abusando do bom humor e referências à dezenas de outros filmes e obras da cultura pop, incluindo aí alguns filmes anteriores do “teioso”, como na inacreditável cena da barca, que é uma homenagem clara à cena do trem desgovernado em “Homem Aranha 2”, de Sam Raimi, o longa nunca derrapa em sua proposta e agilidade. Sob a direção leve de Jon Watts (do sinistro “Clown”), o equilíbrio entre a ação e a narrativa mostra-se ideal para realçar os conflitos dos personagens, já que herói e vilão possuem suas cargas de dualidade.

Se tecnicamente o filme é quase impecável, desde a concepção dos incríveis designs dos trajes do Aranha e do Abutre, até à magnitude e abrangência das elaboradas cenas de ação, o que realmente rouba todas as atenções do longa é o ótimo trabalho do elenco. Que me desculpem os atores Tobey Maguire (“Homem-Aranha 1,2 e 3”) e Andrew Garfield (“O Espetacular Homem-Aranha 1 e 2”), mas Tom Holland é o Homem-Aranha definitivo. Com seu semblante de garoto e uma atuação pra lá de fabulosa, é impossível não acreditar em seu Peter Parker indeciso e apaixonado. Ao seu lado, o amigo e alívio cômico Ned, interpretado por Batalon, é impagável e já entra para o hall de melhores personagens de filmes de super heróis. Do lado “adulto”, Marisa Tomei cria uma Tia May modernosa e divertidíssima, Jon Favreau diverte-se muito com a volta de seu Happy e Downey Jr., que não aparece tanto quanto os cartazes e trailers promocionais sugerem, está perfeito – como sempre! – como uma espécie de “mentor” de Parker. Não o que o garoto merece e sim o que ele precisa, como diria o Comissário Gordon em “Batman”.

Como já é praxe nos filmes de super heróis, o calcanhar de aquiles do filme concentra-se no “arqui-inimigo”. Mais especificamente nas motivações dele. O desempenho de Keaton é forte e imperativo e o longa até se esforça para dar uma carga dramática às razões que transformam o empreiteiro Adrian Toomes em Abutre, incluindo um bem vindo e surpreendente plot twist em sua história, mas não é suficiente para expender como o homem comum, sempre preocupado com a família, torna-se um assassino à sangue frio de uma hora para a outra.

“Homem- Aranha: De Volta ao Lar”, mesmo com alguns defeitos, é tudo que um filme de herói precisa ser: ágil, divertido, eficiente, heroico e surpreendente. Com duas cenas pós créditos – a última delas impagável!!! – e ganchos para uma dezena de novos longas, a franquia ganha a sua obra definitiva… por enquanto!

Rogério Montanare
@rmontanare

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