Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

À Beira Mar (2015): ainda não foi dessa vez que Angelina Jolie acertou como diretora

Ritmo arrastado e excesso de drama sobrepujam os bons aspectos audovisuais.

a-beira-mar-posterBrad Pitt e Angelina Jolie formam um dos casais mais badalados e comentados de Hollywood. Juntos desde 2004, quando protagonizaram “Sr. & Sra. Smith”, nunca haviam voltado a dividir um set de filmagens. Em 2015, com Angelina Jolie (agora) Pitt em sua busca pela consolidação de sua carreira como diretora, o casal volta às telas em “À Beira Mar”.

Escrito por Jolie, o filme conta a história de Roland (Brad Pitt) e Vanessa (Angelina Jolie), um casal que atravessa um período conturbado em seu casamento que viajam para uma pequena cidade litorânea da França nos anos setenta. Enquanto busca inspiração para escrever seu livro, Roland precisa lidar com a depressão da esposa, que só encontra alívio depois de conhecer o casal do quarto vizinho, Lea (Mélanie Laurent) e François (Melvil Poupaud) que estão em lua de mel.

A história se desenvolve com bastante destaque para a melancolia que ao mesmo tempo une e separa aquele casal. Como se passa na década de setenta do século passado, é interessante perceber, em tempos de smartphones e redes sociais, um tédio massacrante que se abate sobre Vanessa, enquanto o marido passa o dia no restaurante próximo ao hotel.

A aproximação com Lea e François começa a despertar sentimentos díspares em Vanessa. Ao mesmo tempo que se vê naquele casal tão mais jovem, provavelmente lembrando dos seus primeiros anos de casada, também sente profunda inveja por não ser mais capaz de ter aquele relacionamento quente e passional. Roland vê aí a possibilidade de se reaproximar da esposa, uma vez que os dois se unem num exercício de voyeurismo.

O design de produção é bastante eficiente, tanto na reconstrução de época quanto na ambientação daquela pequena cidade francesa. Além da falta de tecnologias, a ideia de isolamento está sempre ali, como na constante presença de um pescador no campo de visão de Vanessa. Igualmente eficiente é o trabalho de fotografia de Chritstian Berger. A luminosidade e beleza daquele lugar é sempre contrastada com a escuridão e confinamento do interior do quarto do casal.

Angelina Jolie, que vem se dedicando cada vez mais à carreira de diretora, constrói sequências e planos interessantes, como o momento em que Roland descobre um ato condenável da esposa ou as longas caminhadas de Vanessa pela praia.

Infelizmente, o roteiro prejudica o andamento da história com alguns diálogos expositivos como quando Vanessa, depois de um passeio pela praia, explica o que houve com sua aparência ou as repetidas tentativas de Roland de falar sobre o que causou aquele afastamento. Porém, esse mistério, deixa a sensação ter sido colocado ali apenas para despertar essa curiosidade, nem tanto pela sua importância na história.

O casal protagonista carrega suas personas para seus personagens, o que facilita a identificação com o público, mas os problemas citados acima, além de uma história pouco interessante prejudicam a construção dos personagens, tornando-os maçantes e repetitivos.

Apesar dos aspectos audiovisuais excelentes, o excesso de drama e sofrimento torna a experiência de assistir “À Beira Mar” pouco interessante, quase esquecível, e extremamente cansativa e aborrecida.

David Arrais
@davidarrais

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