Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Invencível (2014): Angelina Jolie dirige drama aborrecido e arrastado

Sempre preocupada em alertar sobre as barbáries do mundo, Jolie esbarra em sua falta de talento e criatividade como cineasta.

316577.jpg-r_640_600-b_1_D6D6D6-f_jpg-q_x-xxyxxDentro e fora das telas, Angelina Jolie é uma figura que atrai bastante atenção, isso desde o início de sua carreira quando explodiu para o mundo com duas ótimas passagens em “Gia – Fama e Destruição” (1998) e “Garota Interrompida” (2000), chegando até faturar um Oscar na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante. Após o sucesso de “Sr. e Sra. Smith” (2005), além de iniciar um comentado relacionamento com o astro Brad Pitt, Jolie se tornou uma das maiores e mais bem pagas estrelas de Hollywood. Fazendo inúmeros blockbusters e podendo investir em projetos pessoais e sociais. Ficou conhecida por adotar órfãos, virou embaixadora das Nações Unidas e esteve empenhada em campanhas importantes sobre o câncer, principalmente depois de ter feito mastectomia. Há também quem diga que tudo isso não passe de vaidade.

De uns anos pra cá, Angelina resolveu dar um novo rumo à sua carreira, tem investido muito no trabalho de produção e direção. E, estreando como cineasta em “Na Terra de Amor e Ódio” (2011), se mostrou preocupada com as atrocidades que aconteceram na Guerra da Iugoslávia, ainda que, na prática, trouxesse um romance brega, mal conduzido e de péssimas atuações. Agora, quase quatro anos depois, Jolie apresenta um ambicioso longa-metragem chamado “Invencível”, que mesmo sem grandes estrelas no elenco, contou com um bom orçamento e profissionais conceituados dentro da área técnica. No entanto, praticamente os mesmo problemas do título anterior se fazem presentes aqui. Como também seu direcionamento temático.

O filme retrata a vida do atleta olímpico Louis Zamperini (Jack O’Connell), que no auge de sua forma é chamado para a Segunda Guerra e compelido a passar por situações censuráveis que fogem da compreensão dos limites humanos físicos e emocionais. Por mais de duas horas, somos obrigados a acompanhar torturas incessantes na vida do sujeito, que começa antes mesmo dele estar trocando tiros – desde criança sofria maus tratos dentro e fora de casa. No campo de batalha, Zamperini e a tropa que o acompanha tem seu avião atingido, obrigando o piloto e amigo Phil (Domhnall Gleeson) a fazer um pouso forçado no meio do oceano. Apenas três sobrevivem, os dois já citados e o soldado Mac (Finn Wittrock), deixando assim o grupo naufragados por mais de um mês em cima de um bote, sobrevivendo sabe-se lá como. E quando finalmente aparece o resgate, na verdade é a marinha japonesa para captura-los.

A partir daí, o que parecia lembrar algo como “Até o Fim” (2014), passa a ser semelhante a “O Sobrevivente” (2006), onde Zamperini, num campo de concentração, encontra o canastríssimo vilão Watanabe, vivido por Takamasa Ishihara, que de tão ruim e caricato poderia facilmente figurar entre os indicados ao prêmio Framboesa de Ouro. O ator Jack O’Connell tem em mãos um grande papel, mas não consegue transmitir a dor do protagonista, é apático e não confere o peso dramático exigido. Já Domhnall Gleeson e Garrett Hedlund não comprometem em seus papéis, ainda que não criemos o processo de identificação. Muito disso está ligado ao roteiro pedestre da obra. Formado por uma equipe que possui nomes como Joel e Ethan Coen, é duro crer que estes artistas escreveram diálogos de autoajuda tão tolos, chegando assim ao ápice da pieguice quando saltam com “ele trocou a vingança pela fé“.

Construindo uma narrativa bastante convencional, que não tem a capacidade de prender a atenção do espectador, ao menos Angelina Jolie pôde contar com a fotografia do sempre excelente Roger Deakins, que exclui praticamente qualquer cor quente da película, dando um tom mais fúnebre e acinzentado para o conflito em questão. Repare que no primeiro ato, quando Zamperini está contente participando de uma competição, a atmosfera é muito mais vívida, devido às tonalidades acesas conferidas. A trilha de Alexandre Desplat teria mais peso, caso não fosse tão desgastada, pois está presente durante todos os momentos do título. E, mesmo que William Goldenberg tente energiza-lo com um maior número de cortes em sua montagem, o troço no final ainda parece inchado. Contudo, mesmo que seja válido Jolie lembrar momentos sórdidos da nossa espécie (ainda que de modo unidimensional), é necessário se atentar ao fazer do filme, pois novamente falha nesse aspecto. Pegando então a onda clichê, termino com: no cinema não basta apenas a intenção, é preciso saber transmiti-la.

Wilker Medeiros
@willtage

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