Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 20 de dezembro de 2014

Quero Matar Meu Chefe 2 (2014): uma sequência divertida

Irregular, mas eficiente de um modo geral, este "Quero Matar Meu Chefe 2" faz jus ao seu bom antecessor.

Um dos grandes obstáculQuero-Matar-Meu-Chefe-2-posteros enfrentados por comédias que fazem sucesso e logo ganham sequências é o fato de terem que ser ainda mais criativas e inovar nas piadas e na trama. Repetir o que foi feito anteriormente quase nunca dá certo e pode desgastar a relação do espectador com a franquia. Vários já sofreram dessa “síndrome”; dos mais recentes, o segundo “Se Beber Não Case” foi um que foi bastante criticado por ser basicamente uma xérox do primeiro; a trilogia “Entrando Numa Fria” soube lidar muito bem com isso no segundo filme, mas no terceiro passou do ponto e pôs tudo a perder. Este “Quero Matar Meu Chefe 2”, por sua vez, ainda que cometa deslizes ao investir exageradamente em referências do primeiro, faz uso de um roteiro ousado para elevar a trama a um nível mais caótico e bizarro ainda, honrando as principais qualidades do longa anterior.

Com direção de Sean Anders, aqui o trio formado por Nick (Jason Bateman), Dale (Charlie Day) e Kurt (Jason Sudeikis) cria o próprio negócio para fugir das amarras provocadas por eventuais chefes problemáticos. Após uma pequena aparição em um programa de TV para divulgar o seu produto, um grande investidor chamado Bert Henson (Christoph Waltz) decide apostar na inovação, costurando um acordo que proporciona uma enorme quantia em empréstimo vinda de um determinado banco. Acontece que, evidentemente, as coisas não são o que aparentam ser e não saem como o planejado, desencadeando uma série de eventos envolvendo o filho do empresário, Rex Henson (Chris Pine).

Se no primeiro filme o contexto de crise econômica que assolava os Estados Unidos tinha de ser levado seriamente em conta para entendermos o dilema no qual aqueles personagens se encontravam, aqui isso não é mais tão necessário. Muito pelo contrário, o país está voltando a crescer e é justamente isso que os motiva a se aventurar no mundo business e serem patrões de si mesmos. Assim, é interessante notar como os realizadores (especialmente os 5 roteiristas diferentes, incluindo o próprio diretor) foram criativos e souberam montar uma trama inovadora, mas sem esquecer a essência e a premissa básica que deu origem à franquia. Mesmo quando dono do próprio negócio, sempre vai ter alguém de quem você depende; seja um fornecedor, um sócio ou mesmo, como no presente caso, um investidor.

Utilizando-se desse pressuposto, o que se desenrola a partir daí segue mais ou menos o modus operandi do longa anterior. De alguma forma, o trio é passado para trás por um indivíduo acima deles na “cadeia do capitalismo”, e então eles tentam se vingar de alguma forma. As piadas continuam a funcionar, principalmente quando não dependem excessivamente de referências do primeiro filme para fazerem sentido. Claro que ver Kevin Spacey, Jamie Foxx e Jennifer Aniston em tela é sempre um prazer, mas suas participações são pouco produtivas (especialmente a do primeiro), não contribuindo significativamente para o andamento da narrativa. No mais, a química dos protagonistas continua ótima, e as participações de Christoph Waltz e Chris Pine certamente dão um charme especial à película, papel desempenhado no passado por Colin Farell e pelo próprio Spacey.

Com uma condução segura de Sean Anders, provando ter um timing excelente para o gênero comédia (a cena da perseguição da polícia interrompida pela passagem de um trem, em particular, é inspiradíssima), “Quero Matar Meu Chefe 2” acaba cumprindo o que promete: diversão non-sense sem compromisso e eficiente. Pecando eventualmente por alguma irregularidade e subtramas paralelas pouco funcionais, é conveniente colocar que tais tropeços não chegam a comprometer de modo significativo o resultado final. Dessa maneira, temos um longa razoável, divertido e honesto, que faz jus ao seu antecessor.

Arthur Grieser
@arthurgrieserl

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