Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Debi & Lóide 2 (2014): quase tão divertido quanto o original

Talento dos protagonistas compensa quase todos os problemas do longa

Em meados da década de 1990, o mundo do cinema viu o nascimento e consolidação de um astro da comédia, provavelmente o maior desde então: Jim Carrey. O início de sua carreira foi construído por três grandes sucessos de público:”Ace Ventura – Detetive de Animais“, “O Máscara” e “Débi & Lóide”, este marcado pela química mais que perfeita com Jeff Daniels. De lá para cá, sua carreira viveu altos e baixos, marcados principalmente pela sua busca pelo respeito do público como um grande ator (algo que ele conseguiu provar com louvor, exceto para uma certa Academia). Eis que vinte anos depois ele se reuniu com os malucos diretores Peter e Bobby Farrelly (além de Sean Anders, Mike Cerrone, John Morris e Bennet Yellin, também roteiristas) e trouxeram de volta uma das duplas mais degeneradas dos últimos anos no Cinema.

Depois de Debi (Jeff Daniels) conseguir tirar Lóide (Jim Carrey) do estado catatônico em que se encontrava nos últimos vinte anos, ele conta ao amigo que está passando por um grave problema de saúde: precisa de um transplante de rim. No entanto, depois de descobrir que seus pais não podem ser doadores (por um motivo que lhe provoca uma reação hilária), ele fica realmente desesperado. No entanto, depois de ler correspondências perdidas a muito tempo, ele descobre que tem uma filha de vinte e três anos. Logo, os amigos resolvem procurar por essa jovem para tentar convencê-la a doar um rim para seu pai biológico.

Como não poderia deixar de ser, a dupla se mete numa enrascada atrás da outra a cada minuto, conseguindo arrancar risos em quase todas as suas investidas. O roteiro, como no original, aposta fortemente no politicamente incorreto de forma inteligente: as atitudes reprováveis dos protagonistas não são condenáveis pela perfeita construção dos personagens: ele parecem não entender porque não deveriam tomar tais atitudes, o que faz com que o público não os odeie quando, por exemplo, voltam a enganar o vizinho deficiente visual ou fazem comentários misóginos ou racistas.

A travessia pelo país em busca da filha traz a atmosfera de um “road movie”, e reserva os melhores momentos da projeção, em especial nos confrontos com Travis (Rob Riggle), empregado de Adele (Laurie Holden) e Dr. Pinchelow (Steve Tom), pais adotivos de Penny (Rachel Melvin). Por atingir o ápice ainda no segundo ato, o ato final, ainda que engraçado, perde um pouco de sua força, especialmente por alguns furos gigantescos no roteiro. Outro elemento desnecessário na história é plano armado por Adele.

O timing cômico e a química entre Daniels (é quase impossível acreditar que o ator é também o protagonista da série Newsroom) e Carrey permanece inabalado. A naturalidade com que cada um comete as verdadeiras atrocidades de seus personagens demonstram o enorme talento dos atores.

Além deles, o elenco de apoio também tem participações importantes. Kathleen Turner mostra-se uma escolha acertada, funcionando bem como “escada” para várias piadas (representada por uma musa da atualidade em sua juventude). Steve Tom confere credibilidade ao Dr. Pinchelow, o pai adotivo. A única parte fraca do “casting “é Laurie Holden, prejudicada por seu personagem mal desenvolvido.

Em uma época em que a patrulha do politicamente correto obriga o surgimento cada vez mais frequentes de comédias insossas e repetitivas, “Débi & Lóide 2”é um excelente suspiro de criatividade e garantia de gargalhadas.

David Arrais
@davidarrais

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