Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 12 de julho de 2014

A Marca do Medo (2014): suspense eficiente e assustador

Elenco e direção afiados rendem um ótimo trabalho

Baseado em uma história real, “A Marca do Medo” conta como, nos anos 1970, o Professor Joseph Coupland (Jared Harris) ficou obcecado por um experimento de parapsicologia que consistia em tratar Jane (Olivia Cooke), uma paciente resgatada por ele de um hospital psiquiátrico, onde acreditavam que ela sofria de esquizofrenia. Para realizar tal experimento, Coupland recrutou Harry (Rory Fleck-Byrne), Brian (Sam Clafin) e Krissi (Erin Richard), seus alunos em Oxford, para auxiliá-lo.

Depois que uma das sessões dá errado, o professor leva seus auxiliares e Jane para uma casa de campo afastada da cidade para continuar sua experiência não-convencional. No entanto, com o passar do tempo, uma série de coisas estranhas acontece com Jane e o grupo de pesquisadores.

E aqui está o grande acerto do roteiro, escrito a oito mãos por Craig Rosenberg, Oren Moverman, Tom DeVille e John Pogue, que também dirige a obra. O desenvolvimento dos personagens e de suas relações ocorre de forma gradativa, dando tempo ao espectador de compreender e assimilar tudo aquilo que está ocorrendo. Ao mesmo tempo, à medida que o experimento avança e apresenta resultados, os eventos paranormais (ainda que caiam em clichês como a trilha sonora que “comenta” o que se passa na tela, vozes estranhas ou objetos que caem sem maiores explicações) ficam mais intensos, o que aumenta a tensão e os sustos da trama.

A fotografia, em consonância com a direção de arte, também tem participação fundamental em criar o clima da fita. Além da textura típica dos anos setenta, as cores são sempre escuras e frias, o que aumenta a angústia, a solidão e a sensação e afastamento daquela experiência. O fato de Brian ser o operador de câmera do grupo faz com que suas filmagens substituam o espectador, jogando o público para dentro da história de maneira orgânica e ainda mais assustadora.

A escolha do elenco é acertada tanto pela qualidade dos atores como pelo fato de serem rostos relativamente desconhecidos, o que colabora com o realismo da história. As atuações são o ponto alto da película. Jared Harris (que inexplicavelmente nunca conseguiu um papel de destaque em um blockbuster) esbanja seu talento nos vários maneirismos gestuais e no carregado sotaque britânico do professor e parapsicólogo. Rory Fleck-Byrne e Erin Richard formam um casal de coadjuvantes fundamental, pois elevam credibilidade na pseudociência apresentada no filme. Sam Clafin transmite com sucesso os conflitos internos de Brian, com ênfase naqueles relativos à Jane. Olivia Cooke realiza um trabalho igualmente eficiente, levantando, ao mesmo tempo, sentimentos de pena e medo no público com a situação em que a garota se encontra.

O trabalho de John Pogue na direção é eficiente tanto na condução da história, que nunca perde o ritmo, como na condução dos atores propriamente dita, enaltecendo a química perfeita que existe entre os membros do elenco. Outro elemento digno de elogios do diretor é a fuga do susto fácil, como aqueles baseados apenas no aumento do volume da trilha sonora ou no gore (membros arrancados ou corpos dilacerados).

É sempre interessante ver um novo respiro de originalidade em um gênero tão saturado e pouco imaginativo. Só nos resta torcer que “A Marca do Medo” faça bastante sucesso nas bilheterias para convencer Hollywood que uma boa história pode ser mais atraente e assustadora que apenas subcelebridades em mortes bizarras e efeitos especiais de segunda categoria.

David Arrais
@davidarrais

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