Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 07 de junho de 2014

Oldboy – Dias de Vingança (2013): remake funciona, mas é desnecessário

Trabalho burocrático de Spike Lee nos faz voltar à questão da atual tendência dos remakes hollywoodianos.

OB posterA recente – e longa – onda de remakes hollywoodianos já foi amplamente discutida e a discussão sempre chega ao mesmo ponto: o cinema americano está em crise? Esgotaram-se as ideias da principal indústria do entretenimento mundial? O foco de Hollywood se destina apenas a repaginações, adaptações de sagas literárias adolescentes ou filmes baseados em quadrinhos?

Diretores autorais como Quentin Tarantino e os irmãos Coen, em suas recentes incursões, provam que não: a maior indústria cinematográfica do planeta ainda tem fôlego e muito a oferecer. Estes, entretanto, são medalhões de carreira consolidada e bastante conhecida. Quando se trata do novo mainstream, da renovação, falta originalidade. Alguns justificam que certos remakes são necessários para reavivar personagens há tempos fora das telonas, entre eles,  os recentes “Godzilla” (2014) e “Robocop” (2014). Mas e quando as histórias e personagens estão perfeitamente vivos nas memórias dos espectadores? Sim, isso vai para os executivos da Sony e “O Espetacular Homem-Aranha”, e também é o caso da mais nova produção de Spike Lee: “Oldboy – Dias de Vingança”.

Seguindo, basicamente, a mesma premissa do filme original, o longa acompanha Joe Ducett (Josh Brollin), um homem alcoólatra e cheio de si que não valoriza seu trabalho ou relacionamento. Enquanto voltava bêbado para casa após perder o aniversário da filha, Ducett desmaia e acorda dentro de um quarto de hotel que será sua prisão durante 20 anos. E dentro do quarto já notamos a ironia característica do diretor Spike Lee em relação à questão racial. Ao colocar a foto de um mensageiro de hotel negro, que sorri com o sofrimento do protagonista ao mesmo tempo que o encara e pergunta “O que podemos fazer para servi-lo melhor?”, o diretor ataca a situação social dos brancos, transformando-a em sua prisão.

Após um processo de redenção simbolizado, inicialmente, pela desintoxicação, Joe é libertado e precisa descobrir em quatro dias quem o trancafiou e por que, entrando em uma cruzada de vingança e violência estilizada. Muita violência estilizada. As cenas de ação são cruas e de grande impacto gráfico, destacando-se a inédita combinação entre um estilete e pequenas porções de sal.

Falta inspiração nas coreografias de combate, que estão bem aquém das presentes no filme coreano (detesto comparações de diferentes versões de um filme, mas nesse caso foi inevitável). Mesmo a montagem e a direção não conseguem dar maior força aos fracos embates. Os planos abertos e a ausência de cortes funcionariam caso os golpes e movimentos fossem graficamente interessantes. A já clássica sequência do martelo, por exemplo, torna-se morna e artificial, sendo possível observar a hesitação dos capangas, que lutam ordenadamente: apenas um de cada vez, esperando o anterior ser abatido.

Ao trabalhar as cenas de tensão com primeiros planos e cortes frenéticos, o objetivo é efetivamente alcançado e os batimentos cardíacos se elevam, em consonância com as pulsações ao fundo. O trabalho de som, aliás, é algo a se destacar, guiando as emoções do espectador e fazendo-o sentir na pele todas as sensações de Joe, incluindo toda a dor de um profundo corte feito com vidro, representado por um agudo quase insuportável.

A direção de Spike Lee segue correta, com soluções interessantes, como o plano que acompanha Brolin de costas quando está bêbado e fora de si. A câmera na mão trêmula emula a tontura da embriaguez e causa desconforto enquanto planos abertos, de cima, diminuem o personagem para o estado de insignificância no qual se encontra.

O mesmo não pode ser dito das atuações, que exageram em expressões e ações a ponto de criarem personagens caricatos e, por vezes, risíveis. Josh Brolin e Sharlto Copley compõem tipos com maneirismos incompreensíveis (comer bolinhos chineses e sair de uma piscina nunca foi tão absurdo) enquanto Elizabeth Olsen passa despercebida e Samuel L. Jackson faz um trabalho já desgastado e repetitivo em um personagem raso.

No fim, “Oldboy- Dias de Vingança” é um filme burocrático e que não empolga. Sem grandes problemas, mas não apresentando inovações a ponto de justificar sua realização, o longa é mais um remake Hollywoodiano que nos faz questionar esta duradoura tendência, ainda mais no caso de uma narrativa recente e conhecida.

Mateus Almeida
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