Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 24 de setembro de 2013

As Bem-Armadas (2013): engraçadinho e esquecível

Sandra Bullock volta às comédias com o mais do mesmo.

Sandra Bullock é um dos maiores ícones da comédia romântica em Hollywood. Suas personagens, na maioria das vezes, ficavam entre a falsa feia, a desajeitada e a mulher solitária e focada no trabalho. Depois de tentar se afastar desse estigma, e ainda ganhar um Oscar no processo, ela volta à sua zona de conforto, sob a batuta do diretor Paul Feig, com roteiro de Katie Dippold.

O filme tem início com a agente especial Ashburn (Bullock), que lidera uma ação do FBI em busca de drogas em Nova York. Em poucos minutos, todos os estereótipos citados acima são jogados na tela, com o acréscimo ainda do batido “superior sem autoridade”. Ela ainda é extremamente metódica, delicada e aparentemente incapaz de dizer palavrões. Enquanto isso, em Boston, a investigadora Shannon Mullins (Melissa McCarthy) é exatamente o seu oposto. Ela é desbocada, grosseira, agressiva e com graves problemas de respeito à autoridade. Especialmente em relação Capitão Woods (Thomas F. Wilson, o eterno Biff Tannen), seu superior. Em troca de uma promoção no FBI, Ashburn é enviada a Boston para investigar um violento traficante de drogas. Antes disso, ela tem que aprender a lidar com Mullins, além de suas próprias inseguranças e limitações.

Infelizmente, a profusão de clichês prejudica o andamento da história. Temos as policiais afastadas do serviço, os colegas babacas que ridicularizam a dupla principal, um plot twist previsível e um interesse romântico desnecessário. Existe até o momento em que um cachorro esconde o focinho entre as patas depois de ser repreendido! E isso acontece duas vezes!

O roteiro é irregular, ainda que acerte em alguns momentos. O longa traz cenas divertidas, como o almoço com a imensa família Mullins ou um interrogatório da dupla principal. No entanto, os furos não passam batido, como um dispositivo de rastreamento que inicialmente recebe grande destaque e depois não se justifica ao longo da projeção.

Ainda que a trama principal desperte interesse, ela é prejudicada pela montagem. Em momento algum é possível saber quanto tempo dura cada passo da investigação. Também causa estranheza a velocidade com que os mistérios são resolvidos e da organização das operações especiais. A mudança de personalidade da agente Ashton no terceiro ato também é inexplicavelmente rápida.

Mas nem tudo são problemas. A química entre Melissa McCarthy e Sandra Bullock é tão boa que compensa a falta de profundidade daquelas personagens. Além de seu carisma magnético, a dupla domina todas as suas ações com grande facilidade, ainda que passem bem perto da caricatura. Certos personagens secundários são responsáveis por algumas das passagens mais engraçadas da fita. Entre esses destaques estão Craig (Dan Bakkedahl), um agente especial albino e misógino e Rojas (Spoken Reasons), um jovem traficante incompetente.

Outro acerto do longa é não aliviar na violência, o que aumenta a credibilidade nas situações arriscadas pelas quais as protagonistas passam.  Apesar de atingir seu objetivo principal, de causar várias risadas na audiência, “As Bem-Armadas” é um entretenimento descartável e fácil de esquecer. A sua continuação, que já está sendo produzida, infelizmente só se justifica pelo bom desempenho nas bilheterias.

David Arrais
@davidarrais

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