Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Jack Reacher – O Último Tiro (2012): Tom Cruise em sua zona de conforto

Astro parece querer emplacar nova franquia de ação com filme que empolga por seu roteiro inteligente...até seu ato final.

Aos 50 anos de idade, Tom Cruise está mais na ativa do que nunca. Um dos atores mais conhecidos do mundo e o que talvez melhor represente o conceito de “astro” no cinema nunca esteve envolvido em tantas estreias em tão curto espaço de tempo como nestes últimos meses. Depois de estrelar um dos melhores longas da famosa série “Missão Impossível” em dezembro de 2011 e se arriscar como um astro de rock em “Rock of Ages: O Filme” em agosto do ano passado, ele retorna agora a sua zona de conforto. Em “Jack Reacher – O Último Tiro”, Cruise parece querer emplacar nova franquia de ação, que seria promissora, caso o roteiro do longa não desmoronasse em sua meia hora final.

Desta vez, o ator interpreta um homem além da lei, um ex-militar chamado Jack Reacher que só entra em ação para fazer o que ele mesmo julga como “justiça”. Mas depois que um ex-soldado é acusado de assassinar aleatoriamente cinco pessoas em um desses massacres cada vez mais comum nos EUA, ele surge, sem dinheiro, armas ou mesmo bagagem. Quer fazer sua própria denúncia do psicopata, apenas. A insistência de Helen (Rosemund Pike), a advogada de defesa, para tê-lo como investigador, porém, o afasta do desejado anonimato temporariamente. No entanto, à medida em que a dupla mergulha nos fatos e nas provas do crime, eles descobrem que sua resolução pode não ser tão óbvia assim.

Adaptado da série de livros do escritor inglês Lee Child, “Jack Reacher” demonstra-se inicialmente mais inteligente do que o padrão de filmes de ação de Hollywood, até mesmo aqueles já estrelados por seu ator principal. A preparação e o massacre realizado por um franco-atirador de um estacionamento em pessoas que vagueiam por um parque logo à frente abrem o filme de forma surpreendente, ousada. E logo depois da primeira aparição de Reacher na trama, adentramos em um thriller investigativo bem construído que se torna intrigante a cada minuto que passa.

As cenas de ação pontuam momentos do roteiro escrito por Christopher McQuerrie, que também dirige o filme, mas por diversas vezes são os diálogos rápidos e bem escritos que dominam a narrativa. Se alguns deles servem para revelar a natureza do trabalho realizado por Reacher, outros abordam a investigação de maneira gradual, sem precipitações, deixando em aberto toda e qualquer desconfiança do espectador. Ter um protagonista carismático, pouco ligado em novas tecnologias e sem qualquer recurso financeiro ajuda o longa na tentativa de gravar sua própria assinatura na mente do público.

Na hora de sua conclusão, porém, a história demonstra diversas fragilidades. Em suma, vários dos questionamentos deixados ao longo da trama continuam sem respostas apropriadas, bem como personagens coadjuvantes, especialmente o interpretado por Werner Herzog, jamais dizem a que vieram. O roteiro de McQuerrie, enfim, não sabe defender e justificar a grandiosidade que sua história alcança. São tantos “furos” em tão poucos momentos que é quase inevitável pensar: “esse filme é uma enganação”. Embaraçosa também é a mensagem pró-violência que a trama transmite em seu final, principalmente depois que um massacre desmedido deu início a todos os outros acontecimentos.

Mas é preciso dizer que lapsos do trágico ato final já se anunciam antes em escolhas pontuais decepcionantes do roteiro e da direção que decorrem em cenas no mínimo estranhas. O que dizer da briga entre dois capangas para ver quem consegue surrar o protagonista primeiro? E da sequência em que Reacher é protegido da polícia por um grupo de pessoas em uma parada de ônibus? Em busca de um alívio cômico, o roteiro de Christopher McQuerrie vacila em quase todas as suas tentativas. Robert Duvall que o diga! Como diretor, ele também não é um grande talento. Em seu segundo trabalho nessa função, McQuerrie é extremamente dependente de um grupo de montagem eficiente que nunca deixa o ritmo cair, até mesmo durante os diálogos.

E são nesses momentos em que Tom Cruise e Rosemund Pike melhor demonstram seus talentos, já que as cenas de ação não trazem diferencial algum. Mesmo que o roteiro fuja acertadamente de um romance entre os dois, é inevitável não sentir empatia pela dupla de investigadores. O mesmo não se pode dizer do restante do elenco, que além de Herzog e Duvall, conta ainda com o talentoso Richard Jenkins. Não sobra espaço para eles brilharem, afinal estamos em um filme produzido e estrelado por Tom Cruise. E mesmo que “Jack Reacher – O Último Tiro” não esteja à altura de sua fama, ainda é um prato cheio para os seus fãs.

Darlano Didimo
@rapadura

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