Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 01 de dezembro de 2012

Os Penetras (2012): longa consegue divertir mesmo sem história consistente

Comédia nacional tem falhas graves de roteiro e direção, salvando-se apenas pela dupla de protagonistas.

Com o sumiço do Didi e da Xuxa nos cinemas, a Globo Filmes tem investido pesado em comédias do mesmo nível destes citados – porém, com temática mais “adulta” –, raramente deixando alguma brecha entre um lançamento e outro. A mais recente obra da produtora é “Os Penetras”, que se não oferece um enredo interessante e criativo, pelo menos diverte mais do que os outros produtos dessa mesma embalagem.

A história segue as desventuras de Marco Polo (Marcelo Adnet), um típico malandro carioca que vive de dar golpes em turistas, figurões ou qualquer pessoa pouco esperta, e Beto (Eduardo Sterblitch), um rapaz ingênuo que sofre demasiadamente por ter sido abandonado pela sua amada, sendo a vítima perfeita para o novo golpe de Marco.

A partir desta premissa, a trama poderia se desenrolar para vários caminhos diferentes e igualmente promissores, mas o roteiro escrito por Nina Crintzs, Rafael Dragaud, Marcelo Vindicato e Andrucha Waddington – que também dirige o longa – não sabe definir um rumo e atira para todos os lados. Parece que o texto tenta acatar todas as ideias de todos os autores, perdendo consistência e resultando em uma história pobre com pitadas de humor.

Os arcos dos personagens são menosprezados em prol de cenas desnecessárias de improviso que nem sempre funcionam. A relação de amizade entre os protagonistas é trabalhada de modo superficial e com resolução convenientemente fácil, a relação amorosa entre Marco e Laura (Mariana Ximenes) é mal explicada e pouco rende ao desenvolvimento da trama, e as motivações dos personagens são consideravelmente forçadas.

Parte disso é devido à inexperiência de Waddington com comédias. Acostumado a dirigir bons dramas, o diretor não lida muito bem com o timing que o gênero exige e acaba deixando o filme quase todo nas costas da dupla principal. Aliás, se não fosse a competência de Adnet e Sterblitch, a obra perderia totalmente o atrativo, pois os atores, já veteranos na área humorística, ainda conseguem (com dificuldade) segurar as bases frágeis do roteiro praticamente sozinhos.

As ferramentas mais antiquadas do gênero ainda permanecem, como o humor pateta sem função narrativa e a trilha musical descritiva, chegando a ser infantil na primeira cena. A musa de pouca roupa também não poderia faltar, e embora seja um belo agrado para os olhos masculinos, a personagem de Ximenes soa mais como uma desculpa para o machismo mal disfarçado do que uma real necessidade para a história.

De todo modo, estas falhas são parcialmente compensadas por um tipo de humor que excede as expectativas quando pensamos em comédias da Globo Filmes. É uma espécie de “Se Beber Não Case” brasileiro e menos criativo, mas que ainda provoca risos legítimos. Adnet tem espaço para mostrar seu talento, o que não costuma acontecer em outras produções em que o ator se envolve, e Sterblitch estreia bem no cinema, construindo o personagem a seu modo e sendo responsável pela maior parte do entretenimento. Dos males, o menor.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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