Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 01 de janeiro de 2012

Alvin e os Esquilos 3 (2011): quando superioridade não significa qualidade

Retorno de Jason Lee e viagem para longe da civilização marcam o filme mais agradável da franquia, que continua a subestimar seu público alvo.

Por mais insignificante que possa parecer Dave, o personagem interpretado por Jason Lee na franquia dos esquilos artistas nascida em 2007, ele fez muita falta na completa tortura que foi o segundo filme. Tratava-se do único ser vivo sóbrio, com um mínimo de seriedade, em meio a gente e bichos imbecilizados em tramas que seguem pelo mesmo caminho, mas que por alguma razão conseguem lotar as salas de cinema e garantir mais uma sequência. O retorno de Lee em “Alvin e os Esquilos 3” não é o suficiente. No entanto, garante escassos momentos de pretensa afetividade e ordem neste mundo habitado por animais elétricos que irritantemente cantam, dançam e falam sem parar.

Outra boa escolha do roteiro escrito por Jonathan Aibel e Glenn Berger é retirar essa esquisita família americana do continente e, inicialmente, levá-los para um cruzeiro, para que possam aproveitar as férias. É o sinal que o público será poupado de medonhos concursos de calouros de resultados mais do que previsíveis, o que realmente acontece (com exceção de uma vergonhosa disputa em plena boate do barco). De fato, os números artísticos são, felizmente, reduzidos, limitando-se a apresentações curtas que “homenageiam”, principalmente, Lady Gaga e Katy Perry em performances que já não mais impressionam ninguém. Substituindo-as está uma aventura clichê que inclui nada menos do que a busca por um tesouro escondido há milhares de anos. Quanta originalidade!

A situação citada acaba ocorrendo em uma ilha aparentemente inóspita, onde Alvin, Simon e Theodore, juntamente com as três esquiletes, abrigam-se, depois de um acidente causado pelo líder dos esquilos em pleno cruzeiro, e esperam com esperança a chegada de Dave. A partir de então, o filme vira uma espécie de “O Náufrago” sem a dramaticidade da luta pela sobrevivência, mas com as referências à querida bola Wilson, aqui multiplicada por três e nem por isso causando o efeito cômico desejado. As piadas, por sinal, continuam pouco inspiradas, já que exploram novamente a personalidade dos bichinhos, com sua energia, inteligência e doçura demasiadamente bem definidas.

Na verdade, as danações armadas por Alvin incomodam mais do que empolgam, certificação de uma direção estática realizada por um nada talentoso Mike Mitchell (“Shrek para Sempre” e “Gigolô por Acidente”). Simon até que tenta ser o oposto do irmão, mas futuros “problemas funcionais” tornam-no ainda mais chato, transformando-se em um galanteador e aventureiro esquilo francês que tem mais o padrão latino de personalidade. Cabe a Theodore, então, compensar a falta de carisma dos companheiros. E ele o faz sem precisar gastar energia ou neurônios. A doçura do mais novo e gordinho dos esquilos conquista a audiência com simplicidade, sendo o único que verdadeiramente transmite a saudade sentida pelo dono, que está mais próximo do que eles pensam.

Dave, por sua vez, exerce sua função de pai, contendo, o quanto pode, a energia e o ímpeto de seus “filhos” (como costuma chamá-los) bagunceiros. Jamais soando rigoroso, Jason Lee traz a humanidade e verossimilhança que falta no longa-metragem, podendo despertar nos pais uma mínima identificação. Uma pena que ele, em boa parte do filme, tenha que repartir a tela com um ridículo David Cross, como o eterno vilão que nunca consegue boicotar de fato os esquilos. Sempre vestido de pelicano, Ian nunca diz a que veio, nem chegando a armar suas falcatruas e planos diabólicos. A impressão é de que foi escalado apenas para pagar mais mico e complementar o elenco original da franquia.

Desempenhando seu antigo papel está Zoe (Jenny Slate), a única habitante da ilha, que está ali há cerca de oito anos sem aparentemente desperdiçar o kit de maquiagem. A personagem chega até a soar como novidade, mas desagrada quando se revela seu preocupante estado de sanidade e quando o roteiro a concede um destino que envergonha qualquer pirata em busca de um tesouro escondido. E dessa forma, com escolhas extremamente infantis, “Alvin e os Esquilos 3” sustenta-se em Jason Lee e na busca por uma aventura diferente, mesmo que capenga, fazendo do longa o melhor da franquia, o que não significa muito. Na verdade, não significa nada.

Darlano Didimo
@rapadura

Compartilhe