Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 03 de junho de 2011

X-Men – Primeira Classe (2011): mutantes voltam em reboot maravilhoso

Esqueça os filmes genéricos de heróis dos quadrinhos, a equipe mutante volta às origens de cara e roupas novas, mas melhor do que nunca, no reboot sensacional dirigido por Matthew Vaughn.

Hollywood ainda insiste, mas filme sobre heróis dos quadrinhos já deram o que tinham que dar. Com exceção de um longa aqui outro acolá (caso dos Batmans de Christopher Nolan, por exemplo), a maioria das adaptações de quadrinhos tem caído na vala das produções genéricas que até divertem, mas não trazem nada de novo (“Homem de Ferro”, “Thor” e por aí vai). É com certo alívio, então, que “X-Men: Primeira Classe” reme contra a maré e estreie deixando uma marca e renovando a série dos mutantes no cinema.

Depois da decepção de “X-Men: O Confronto Final” e do spin-off do personagem Wolverine, a ideia de uma reboot para a série não parecia nada animadora e estava com cara de mais uma bola fora dos produtores tentando lucrar com algo a qualquer custo. Mas eis que, surpresa, “X-Men: Primeira Classe” não é apenas um ótimo filme, como também é o melhor até agora sobre o grupo dos mutantes, superando até “X-Men 2”, o grande presente de Bryan Singer aos fãs da equipe liderada pelo Professor Xavier.

Mantendo o clima das primeiras histórias em quadrinhos do grupo e passando a maior parte da duração do longa estabelecendo a trama, apresentando as personagens e seus conflitos, sem deixar de lado as cenas de ação e o suspense, o filme ganha estofo e estabelece um novo patamar para os mutantes. A culpa maior para o feito é de Matthew Vaughn (do ótimo “Stardust” e do hipercinético “Kick-Ass”), que dirige a produção como se fosse uma ópera, costurando as histórias com louvor e abrindo espaço para um elenco talentoso e empolgado brilhar em uma encenação grandiosa e com ares de tragédia.

A repaginada retrô e a volta às origens também faz muito bem aos heróis, mostrando como o grupo se forma em plena crise dos mísseis entre Estados Unidos e Rússia nos anos 1960. Depois de três produções que consolidaram os mutantes no cinema,  “X-Men: Primeira Classe” é uma superprodução a olhos vistos. A direção de arte competente e os efeitos especiais são de primeira linha. E até figurinos são caprichados, apresentando a equipe pela primeira vez no cinema com seus clássicos uniformes originais.

O resultado é um deleito para os fãs não só das histórias em quadrinhos como dos próprios filmes. Uma série de referências aos longas comandados por Bryan Singer (aqui apenas produtor) fazem a plateia babar. E personagens nunca antes explorados no cinema dão o ar da graça (Emma Frost, Destrutor, Banshee, entre outros), dando uma renovada necessária à série.

O respeito que Vaughn tem pelos personagens é visível, e isso pesa muito a favor do filme. Ainda que o diretor exagere na trilha musical, que está sempre presente e é responsável por grande parte do clima, Vaughn dirige com precisão uma trama que vai e volta entre os personagens, mas nunca deixa o ritmo cair ou interesse do público diminuir.  Nem os pequenos furos no roteiro e a falta de cuidado na edição de algumas poucas cenas atrapalham.

A relação entre o Professor Xavier (James McAvoy) e Magneto (Michael Fassbender) é a mola central e serve de condução para toda a história:  o envolvimento dos mutantes com o governo americano e as tentativas de combate ao vilão Sebastian Shaw (Kevin Bacon). A química perfeita entre McAvoy e Fassbender é a cereja do bolo e, quando o filme termina, o espectador fica com aquela sensação de que acabou de ver algo não apenas divertido e empolgante, mas marcante.

O melhor é que, em meio a cenas de ação, batalhas, tragédias pessoais e efeitos especiais, o tema central dos quadrinhos e da série permanece: o medo do diferente. Tema mais atual impossível. É de mais filmes assim que o “gênero” das adaptações de heróis dos quadrinhos precisa. Ação, barulho, diversão, edição fulminante, mas, acima de tudo, boas histórias e personagens bem desenvolvidos. Que venham os novos longas da equipe mutante. Esperamos ansiosos.

Fábio Freire
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