Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Percy Jackson e o Ladrão de Raios

Com grandes pretensões, o longa se perde em meio a tanta vontade de querer agradar.

Baseado no rico universo da mitologia grega, “Percy Jackson e os Olimpianos” é uma série de cinco livros de Rick Riordan, sendo este “…O Ladrão de Raios” o primeiro volume. A série juvenil já conquistou seu público, e adivinhem!? Nada melhor do que um livro de sucesso para jovens virar filme. Enquanto muitos afirmam que este será o sucessor de nosso querido (e às vezes odiado) bruxo Harry Potter, a realidade nos conduz para uma verdade bem diferente.

A história começa nos apresentando a Percy, garoto que se dá bem na apnéia estática, mas parece se confundir com matérias da escola, sofrendo de uma possível dislexia. Ele não sabe, mas logo será o centro das atenções quando seu tio Zeus desconfiar que ele roubou seu tão simbólico raio. É então que figuras mitológicas começam a despencar de todos os lados tentando abordar Percy, que nada tem a ver com o sumiço dos tais raios, na verdade ele nem sabia que era filho de um Deus. Para sair desta enrascada, ele terá a ajuda de seu fiel escudeiro Grover, um “Sátiro” (meio homem/meio bode) e também da bela filha de Atena, Annabeth. Percy precisa salvar sua mãe mortal das mãos de Hades e resolver o impasse entre seu pai (Poisedon) e seu tio (Zeus).

Assim como Harry Potter, as obras literárias de Percy Jackson deviam trazer diversos elementos interessantes e empolgantes, o que infelizmente este longa não traz. É tudo tão atropelado, tão assustadoramente rápido que realmente não conseguimos nem nos afeiçoar aos personagens. Motivações mal explanadas, personalidades rasamente exploradas, falta de bom senso para lidar com a maioria das cenas. Uma grande bagunça de um roteiro furado.

Alguns bons efeitos especiais podem tentar agradar. As cobras na cabeça de Uma Thurman são muito realistas. O grande Hades que sai das chamas da fogueira também chama a atenção, assim como a Hydra de três cabeças. Mas o filme não empolga nem nas cenas de ação, já que até o uso de cabos é grosseiro e mal desenvolvido. As lutas são duras, como se tivessem sido pensadas minutos antes de gravar.

Toda a repercussão em demasia foi com certeza a vilã que fez com que o filme corresse mais do que suas pernas aguentavam. Para elevar tudo até a quinta grandeza, a produção chamou um “super” elenco e um diretor familiarizado com a vertente. Chris Columbus, além de ter dirigido filmes como “Esqueceram de Mim 1 e 2”, “Uma Babá Quase perfeita” (Robin Willians transvestido), o ótimo “Homem Bicentenário”, o interessante “Rent” e o terrível “Eu Te Amo, Beth Cooper”, fez também, adivinhem só (novamente): “ Harry Potter e a Pedra Filosofal” e “Harry Potter e a Câmara Secreta”, os dois bem sucedidos primeiros filmes da franquia do bruxinho.

Chegamos então no elenco.  Começando com o papel principal temos Logan Lerman, jovem ator que mostrou qualidades no recente e insano “Gamer”. Interpretando Percy, ele não teve muitas opções além de correr e fazer cara de interrogação. Grover, o Sátiro, é interpretado pelo também jovem Brandon T. Jackson, ator com bom ritmo para comédia e que serve de alivio cômico em poucas cenas. Como o centauro professor Chiron temos Pierce Brosnan, mais canastrão do que nunca.

A ótima Catherine Keener faz Sally, a sofrida mãe de Percy. Sua personagem é tão pobre que suas motivações beiram o ridículo, como o fato de ela ficar casada com um homem ignorante e de cheiro forte para despistar os possíveis inimigos de Percy (???). Já Uma Thurman interpreta a famosa Medusa e é de longe a melhor personagem do filme. Temos ainda o muito engraçado Steve Coogan como o roqueiro e demoníaco Hades. Coogan se sai bem em sua pequena cena, assim como Rosario Dawson, que faz sua apimentada parceira Perséfone. Infelizmente, dois bons atores usados de forma completamente irrelevante.

No final, “Percy Jackson e o Ladrão de Raios” de tanto querer agradar se deu mal. Uma overdose de informação e personagens condensados de forma grosseira. Muitos atores em cenas esparsas e mal colocadas. Humor rápido e rasteiro. Roteiro insano e interpretações, no geral, fracas. A obra tinha grandes chances de ser um sucesso, afinal o mundo da mitologia grega é realmente interessante. O escritor Riordan parece ter entendido isso e transportado para o papel esse mundo jovem dos semideuses de forma mais coerente, coisa que deve ser feita com muito cuidado, pois adaptar grandes eventos mitológicos para nossa realidade pode ser um desafio quando a idéia é não soar ridículo.

O grande problema foi que este filme não parece ter sido realizado de forma espontânea e natural (U$A). Nada melhor do que um fracasso de bilheteria para ensinar. O problema é que mesmo assim eles não apreendem e quem sofre são sempre os personagens e os fãs. Muitos deles carregarão este fardo como se ele fosse leve.

Ronaldo D`Arcadia
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