Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 23 de maio de 2009

Uma Noite no Museu 2 (2009): nada mais que um amontoado de clichês

Dois anos depois de seu início, a franquia “Uma Noite no Museu” ganha o seu segundo episódio, dessa vez acrescentando mais ação a história e incluindo novos personagens. No entanto, a trama absolutamente desinteressante e ambiciosa origina um filme bem inferior a produção de 2007. Aproveitam-se apenas alguns isolados momentos de humor e boas atuações.

Um longa protagonizado por Ben Stiller ganha especial publicidade na mídia e chama a atenção do grande público, mas não impressiona cinéfilos do mundo todo, já que a carreira de Stiller possui apenas lapsos de qualidade. O que dizer de tragédias cômicas como “Com a Bola Toda”, “A Inveja Mata”, “Quero Ficar com Polly” e “Antes Só do que Mal Casado”? Dentre os mais de 18 filmes que participou nos últimos 10 anos, escapam pouquíssimas produções do gênero, como “Entrando numa Fria”, “Quem Vai Ficar com Mary?”, o respeitado “Os Excêntricos Tenenbaums” e o hilário “Trovão Tropical”, em que foi diretor e roteirista. Ou seja, quando Stiller faz filmes voltados para o público infantil, ele sempre erra, mas quando aumenta a idade de seu público alvo, restam ótimas opções. Com “Uma Noite no Museu 2”, ele volta a se dirigir às crianças e volta a errar. Mas existe um problema maior com a imagem de Stiller: ele nunca foi engraçado e continua assim.

Neste filme, ele volta a interpretar Larry Daley, um antigo nova-iorquino “pé-rapado” que agora passa por um momento de extrema ascensão na vida profissional. Larry montou a própria empresa e vende suas invenções com extrema aceitação do público americano e possui até George Foreman como garoto propaganda. Mas as velhas lembranças das noites no Museu de História Natural e os amigos que criou na época o impedem de ficar parado quando fica sabendo que o local vai passar por uma modernização. O processo vai incluir novas tecnologias no Museu e retirar outras peças mais tradicionais, que serão enviadas ao Smithsonian, o maior complexo de museus do mundo, localizado em Washington (EUA).

A tábua de Ahkmenrah, que dá vida aos seres inanimados, deveria continuar em Nova York, mas as estripulias do macaco Dexter levam o artefato mágico até os arquivos do Smithsonian. Com isso, milhares de bonecos históricos passam a conviver entre si durante longas e perigosas noites em Washington. A situação pode ficar insustentável caso o rei egípcio Kahmunrah (Hank Azaria) consiga capturar a tábua e libertar o seu gigantesco exército com o objetivo de dominar o mundo. Cabe, agora, a Larry impedir a missão de ajudar os seus velhos amigos e fazer tantos outros laços de aventura, como com a aviadora Amelia Earhart (Amy Adams).

O primeiro filme da franquia nunca foi uma referência cinematográfica, mas também nunca foi “escrachado” pela crítica, talvez por se tratar de uma grande brincadeira imaginativa de seus realizadores. Afinal, é sempre interessante quando um universo de realismo, como o da cidade de Nova York, é invadido por magia. O grande problema de “Uma Noite no Museu 2” é extrapolar esse conceito sem jamais construir uma trama atraente e, ainda, exagerar ao ponto de querer destruir o mundo. Outro ponto intocado neste filme é a reação das pessoas ao se depararem com a loucura que invade os museus durante a noite. A inclusão da sociedade local na história seria uma boa estratégia para rechear o roteiro, mas Robert Ben Garant e Thomas Lennon decidiram, dessa vez, ignorar totalmente a ideia.

Os roteiristas nunca convencem na justificativa de sua aventura principal. As personagens sempre parecem estar correndo e brigando por algo irrelevante, por mais que estejam lutando para salvar o mundo. Por que não diminuir a ambição da história e criar uma trama mais crível? A mania de grandiosidade de Hollywood, às vezes, prejudica a si próprio. Além disso, piadas infantis e cenas desconexas compõem a trama, como a que traz Jonah Hill, que interpreta o policial “Brundun” ou “Brandon”, medindo autoridade com Larry. Restam apenas boas sacadas de Garant e Lennon, como a sequência dentro da foto histórica do beijo tirada por Alfred Eisenstaedt depois do fim da Segunda Guerra Mundial. Essa sim é uma cena criativa. É uma pena que elas não se repetem corriqueiramente no filme.

A direção de Shawn Levy continua praticamente a mesma do primeiro longa: lenta e comum. Em “Uma Noite no Museu 2”, Levy explora as mesmas técnicas que utilizou anteriormente na série, destacando-se em apenas uma cena: a da viagem de avião entre Larry e Amelia no interior do Smithsonian. Os diálogos em meio às correrias não são bem aproveitados e quebram totalmente o ritmo da narrativa. O diretor também volta a trabalhar mais uma vez as diferenças de tamanho entre as miniaturas, lideradas por Jedediah (Owen Wilson) e Octavius (Steve Coogan), e os outros bonecos de tamanho maior. Enfim, o filme é uma intensa repetição. Com isso, Levy pode incluir mais um fracasso em sua carreira, que já inclui “Recém Casados”, “A Pantera Cor-de-Rosa” e, em uma escala menor, “Doze é Demais”.

Em meio a tantos erros, os atores são a categoria que obtém os melhores resultados, com exceção do seu protagonista. “Para variar”, Stiller está sem graça e reserva aos seus companheiros de trabalho os melhores momentos do filme. O principal destaque é Amy Adams, que vem se fixando como uma das atrizes mais versáteis e competentes de sua geração. Ela encarna bem o espírito aventureiro de Amelia com sua simpatia e carisma. No entanto, a personagem acaba sendo prejudicada pela tentativa do roteiro de criar um romance chavão com Larry.

Outra boa atuação da produção é de Hank Azaria, que interpreta três papéis. Além do vilão principal, ele é responsável pela voz da estátua do “O Pensador” e de Abraham Lincoln. Já a dupla Owen Wilson e Steve Coogan, desta vez amigos quase inseparáveis, demonstra o que é ter um bom tempo de comédia. E cabe a Robin Williams, como Theodore Roosevelt, e Rick Gervais, como o diretor do Museu de História Natural, a função de talentos desperdiçados das películas.

Tecnicamente instável, seja pela competência da fotografia e dos efeitos especiais ou pela falta de criatividade da trilha sonora, “Uma Noite no Museu 2” é um amontoado de clichês. Contando com praticamente a mesma equipe de produção, o filme aposta sem sucesso em inúmeras sequências que tiveram origem no primeiro filme da franquia e revela-se um longa sem criatividade. Com lições de moral e piadas bobas, que não convencem nem as crianças, esta é uma película com escassos atrativos.

Darlano Didimo
@rapadura

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