Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Malasartes e o Duelo com a Morte (2017): quem vence é o tédio

Trazendo conceitos interessantes e uma trama promissora, "Malasartes e o Duelo com a Morte" não consegue crescer e estaciona no tedioso.

13Memento mori. Essa frase costuma trazer um ar pesado com ela, chegando a assustar. Significa “lembra-te que morrerás”, em latim. Costuma vir acompanhada de outra frase, carpe diem – “aproveite o dia”. Recordando a morte, certeza única da vida, buscar aproveitar cada dia como se fosse o último. “Malasartes e o Duelo com a Mortenos recorda desse grande medo de muitos, mas não consegue aproveitar muita coisa.

No longa acompanhamos a vida do malandro Pedro Malasartes (Jesuíta Barbosa, “O Grande Circo Místico”), que busca sair na vantagem em tudo utilizando sua grande inteligência. Apesar de algumas boas tiradas, o personagem não possui tanto carisma, e isso impede o público de se identificar e solidarizar com o mesmo ao longo do filme, tirando a emoção de cenas chave. Em contrapartida, Ísis Valverde (“Faroeste Caboclo”) está bem em seu papel de Áurea, a menina apaixonada pelo mulherengo Malasartes. Ela entrega bem as emoções ao público, principalmente a montanha russa de sua relação com o malandro, e salva a química entre o casal.

A Morte (Júlio Andrade, da série “Sob Pressão”) entra na história como padrinho de Malasartes. Cansada de seu ofício, busca um substituto, e escolhe o rapaz para tal. A mitologia envolvendo a morte é bastante interessante, incluindo as Parcas das lendas gregas na trama, vividas por Julia Ianina (“Carandiru”), Luciana Paes (da série “3%”) e Vera Holtz (“Berenice Procura”). O cenário é muito bonito e bem construído, e os efeitos especiais, ainda que em certos momentos falhem feio, chegam a impressionar por se tratar de um filme de baixo orçamento. Mas o que temos é mais um papel fraco e sem personalidade destacável. Júlio se esforça, e os gestos, caras e bocas da Morte são interessantes, mas o roteiro fraco não ajuda, pouco aprofundando a personagem. Ao lado do vilão temos Esculápio, vivido por Leandro Hassum (“O Candidato Honesto 2”), que serve à ele. O humorista permanece aqui com seus trejeitos de sempre, que costumam funcionar, mas em momento algum se encaixam.

O filme, a princípio, aparenta ser uma comédia com alguns toques sombrios, que deveriam trazer a reflexão da obra. Esses toques inexistem, e a comédia não pega. O roteiro não tenta ir além da Morte acompanhando a missão de Malasartes, que vive fugindo de Próspero (Milhem Cortaz, “Os Parças”), irmão de Áurea. Um relacionamento mal resolvido com a menina e uma amizade fraca que pouco acrescenta com Zé Candinho (Augusto Madeira, “Bingo – O Rei das Manhãs”).

“Malasartes e o Duelo com a Morte” apresenta conceitos que poderiam ter sido muito melhor aproveitados, mas se perdem no roteiro, que prejudica também o bom elenco. A obra acaba se tornando novelesco demais, e talvez funcionasse melhor na TV (exatamente como aconteceu, tornando-se uma minissérie em três capítulos). Tinha tudo para ser um belo filme nacional e popular, mas é mais um que cai no “mais do mesmo” em terras tupiniquins. E no duelo com a morte, venceu o tédio.

João Victor Barros
@jotaerrebarros

Compartilhe