Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 22 de dezembro de 2018

Minha Vida em Marte (2018): uma dupla dinâmica em ação

Mônica Martelli e Paulo Gustavo salvam a ida ao cinema com sua química espetacular, que consegue fazer com que um filme muito desconexo ainda seja prazeroso de assistir.

Em 2005 era lançada a peça “Os Homens São de Marte… e É pra Lá que Eu Vou”, monólogo da atriz Mônica Martelli (“Minha Mãe É uma Peça”) que trata de sua vida amorosa. Com grande sucesso, a obra foi adaptada para os cinemas em 2014 angariando os mesmos louros. Alguns anos mais tarde, sequências são lançadas tanto na segunda como na sétima artes, com o título “Minha Vida em Marte”.

Aqui Martelli interpreta Fernanda, personagem com seu casamento com Tom (Marcos Palmeira, de “A Noite da Virada”) em crise. Ela divide suas preocupações e inseguranças com o parceiro de negócios Aníbal (Paulo Gustavo, de “Fala Sério, Mãe!”) na relação mais positiva e saudável que tem, e essa amizade é a chave para que ela supere seus problemas e siga em frente. É uma pena que esse objetivo é atropelado por ter um roteiro focado demais no inútil e no desnecessário.

Assim como no primeiro longa, ela é uma mulher em busca de amor, mas o roteiro investe demais em criar situações cômicas enquanto ela ainda procura esse sentimento em outros homens e pouco resta para os momentos em que a amizade entre os protagonistas seja algo empoderador e significativo.

É tempo perdido demais mostrando Fernanda querendo ser amada por homens, pensando em homens, precisando de homens. É uma personagem que não evolui e fica batendo nas mesmas teclas. Aníbal é o amigo que tenta distraí-la ou ajudá-la a seguir em frente, mas alguns diálogos repetem os mesmos temas de que “é preciso atrair um homem” para criar situações cômicas. Discurso muito ultrapassado e que não inspira ninguém ao amor próprio.

Sem contar que o roteiro é extremamente desconexo, com momentos que colocam a trama principal em pausa para que algo engraçado aconteça, e isso ocorre muitas e muitas vezes. A montagem fica tão estranha que as cenas mais parecem segmentos de programas humorísticos do que um filme. Esses trechos não contribuem em absolutamente nada para o andamento da história ou para o desenvolvimento dos personagens. Um bom exemplo disso é a cena na sex shop, que não falha em fazer rir, mas é claramente descartável.

O que salva é que esses momentos de comédia são protagonizados por Martelli e Gustavo, e eles estão incríveis. A química é muito acima da média e as cenas, mesmo desconexas, são realmente engraçadas. É a interação entre os dois que torna o filme, mesmo com todos esses defeitos, gostoso de assistir.

Ao discorrer sobre onde encontrar amor, “Minha Vida em Marte” tenta ilustrar que ele não precisa estar em um par romântico, mas pode estar numa amizade, ou até em si mesma. Infelizmente, ele gasta muito tempo criando situações e conversas sobre a dependência de homens que a protagonista tem, e falta espaço para que a mensagem final seja realmente expressiva. Isso não só enfraquece o longa como também não empodera ou inspira ninguém, mesmo que certamente arranque uma boa quantidade de risadas.

Bruno Passos
@passosnerds

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