Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Mensageiros, Os

Embora não traga vários sustos, "Os Mensageiros" consegue ser um filme que transporta tensão para o espectador. O principal problema do longa-metragem, no entanto, reside em seu roteiro falho e superficial.

“Os Mensageiros” traz a história da família Solomon. Com o intuito de melhorar as condições de vida e distanciar a sua filha adolescente, Jess (Kristen Stewart), de problemas, Roy Solomon (Dylan McDermott) decide mudar-se com a esposa e filhos para uma fazenda na Dakota do Norte. Para Jess, trocar a cidade grande de Chicago por uma pequena parece ser difícil. Visando se estabilizar financeiramente, Roy começa a cultivar uma plantação de girassóis e, para isso, conta com o auxílio de John (John Corbett), um forasteiro que aparece em busca de emprego. Em meio à região pouco habitada e sem perigos aparentes, Jess e Ben logo começam a perceber a presença de criaturas aterrorizantes na casa. Como apenas os dois vêem, a sanidade de Jess começa a ser questionada. Procurando provar a verdade, a garota pretende desvendar o mistério que tanto a incomoda.

Primando por uma linha de história parecida com a de “Horror em Amityville”, os roteiristas Mark Wheaton e Todd Farmer demonstram um poder criativo reduzido, uma vez que a trama, embora possua, certas vezes, traços convincentes, não consegue surpreender totalmente o espectador, o qual, inevitavelmente, acaba procurando criar uma relação do filme com outro qualquer do gênero terror. Com o decorrer do longa-metragem, é esperada uma explicação maior à respeito da motivação dos espíritos para assustar os moradores da casa, todavia a explanação não existe, tornando claro um certo descuido dos roteiristas para com a trama. Ainda, foram simplesmente jogados pontos com a tentativa que o espectador os aceitasse sem maior resistência, como é o caso do senhor que sempre aparece com o desejo de querer comprar a casa. No começo, ele parecia ter uma ligação intrínseca com o aparecimento das criaturas, porém é esquecido depois, gerando uma certa dúvida no público. A demora para explicar certos acontecimentos, como é o caso do problema que envolve a personagem Jess, torna o filme um pouco monótono, já que os fatos sem explicação são claros para o espectador, que apenas precisa que eles sejam desenvolvidos claramente pelo roteiro.

Para compensar certas falhas, os diretores Oxide Pang Chun e Danny Pang são capazes de criar uma atmosfera tensa e, muitas vezes, sombria. Contando com a ajuda de uma fotografia bem trabalhada dos ambientes da casa, os cineastas dispõem de qualidades que deviam existir em qualquer filme de terror/suspense. A opção, a qual acredito não ter sido intencionada, de prolongar a tensão de cenas do longa-metragem faz com que o envolvimento seja maior, uma vez que o espectador sempre acredita que deve temer algum fato. Embora, em geral, tenham se saído bem, Chun e Pang também demonstram baixos na direção, a exemplo de uma cena na qual dois personagens conversam nas proximidades do campo de girassol e a câmera os rodeia e envolve. Neste caso, o efeito da confusão acabou sendo inevitável.

As criaturas aterrorizantes, por sua vez, deixam a desejar. Executando atos parecidos com as de espíritos de outros filmes e trazendo feições também similares às já vistas, os espíritos não são responsáveis por dotar o longa de um aspecto mais assustador, deixando esse quesito apenas a cargo da tensão implementada pela direção. Sustos, portanto, são poucos, demonstrando que o que deve realmente prender o espectador é outro fato. A ausência de uma abordagem mais profunda dos conflitos familiares faz com que uma ligação do público com os personagens não seja criada, o que torna os papéis não tão simpáticos à primeira vista. Um compadecimento pelo drama de Jess é praticamente nulo, já que optaram por trazer uma preocupação maior com a mudança da família e não com o porquê isso aconteceu.

O destaque de Kristen Stewart como a personagem Jess é indiscutível. Com feições trabalhadas para aprimorar um certo sofrimento e sabendo dosar muito bem o drama de ter a sua palavra questionada com o fato de avistar casos inesperados, Stewart compõe uma adolescente aparentemente frágil, mas que procura fazer o possível para desvendar o mistério por trás da casa mal assombrada. Dylan McDermott, por sua vez, ao compor Roy faz deste um papel realmente patriarca, com pulso filme e preocupação pela sua família. Penelope Ann Miller, no entanto, aparece bastante apagada durante a projeção, o que não é culpa dela e sim do espaço reduzido dado à personagem Denise, mãe das crianças. Embora também com pouco a demonstrar, John Corbett consegue manter um ar misterioso e ao mesmo tempo amável ao compor John, o forasteiro desconhecido que passa a trabalhar na fazenda.

“Os Mensageiros” pode não ser um típico exemplar do gênero terror/suspense, no entanto cria tensão e envolve os espectadores com as cenas em geral bem trabalhadas pelos diretores Oxide Pang Chun e Danny Pang. O grande problema do filme reside no roteiro, que pouco explica os fatos e não ajuda para que seja criada uma relação entre personagens e espectadores. Fazendo uso de atores não tão conhecidos, mas que são responsáveis por boas atuações, o longa-metragem ainda deve ser assistido por aqueles que apreciam o gênero retratado.

Andreisa Caminha
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