Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 17 de julho de 2009

Harry Potter e o Enigma do Príncipe (2009): ousado e bem peculiar

A sexta aventura do bruxinho mais famoso e poderoso do cinema é uma espécie de aperitivo para o prato principal, que no caso é o último filme da série. “Harry Potter e o Enigma do Príncipe” apresenta qualidades bem próprias que o torna um dos mais interessantes.

Harry Potter está bem dividido entre a preparação para o confronto final com Lord Voldemort e o sentimento que tem por Gina Weasley. Percebe-se a intenção de mostrar o crescimento do personagem e da história. Enquanto o do primeiro é percebido através da relação sentimental de Harry com a irmã de seu melhor amigo Rony, o crescimento da história é percebido através do próprio clima que cerca a mesma, em um ambiente cada vez mais sombrio, intimista e surpreendente, capaz de causar medo ao público infantil.

Dirigido novamente por David Yates, que comandou o filme anterior da série, a nova aventura de Harry Potter não empolga por simplesmente não conter muitos artifícios que se tornaram essenciais principalmente em filmes de grande repercussão. A principal ausência é a economia de cenas de grande ação e magia. É estranho ver que umas das marcas da série foi substituída por tramas paralelas que mais parecem ser uma espécie de compensação devido a falta de participação que esses personagens possam vir a ter na última saga do bruxinho.

A câmera nervosa utilizada em muitos momentos como na cena em que Harry corre pelo mato, aumenta ainda mais a tensão na história. Ela consegue transpassar ao público o sufoco que os personagens na cena devem estar sentindo. E isso é fantástico não só por acrescentar recursos a um filme que parecia já estar esgotado deles, mas também por ousar. Este é o principal diferencial da obra, a ousadia. Ela, que tem aparecido muito pouco no cinema atual, principalmente por apresentar o risco do filme fracassar, aqui é bem utilizada e consegue ser bastante eficiente.

As tramas paralelas ganham muito espaço em determinados momentos da história. As relações amorosas de Harry e a irmã de seu melhor amigo, e de seus amigos Rony e Hermione Granger chamam a atenção por tamanha frequência na obra. Enquanto nos filmes anteriores essas relações eram abordadas de forma bem tímida, agora com o crescimento dos personagens, elas tornaram-se bem explícitas e indispensáveis na obra. Isso por que não foram só os personagens que cresceram, mas o público também.

É interessante ressaltar o descompromisso do filme em conseguir novos adeptos, uma vez que é descaradamente feito para os fãs e somente a eles. Dificilmente uma pessoa que tem seu primeiro contato com a série através desse último filme irá gostar. Mas isso só ocorre devido ao grande peso que tem a franquia, já que o que surgir com seu nome vira uma verdadeira febre mundial.

Embora mal apareçam no longa, as cenas de efeitos especiais que surgem são espetaculares e aumentam ainda mais a expectativa para o desfecho da franquia que, ao contrário do que foi visto neste, não irá poupar nada para que possa vir a ser o melhor de todos. A cena em que Dumbledore usa seus poderes para salvar Harry é impressionante, mesmo nos dias de hoje em que efeitos do tipo são bem comuns.

É sempre nostálgico remontar ao primeiro filme de uma série. Lá em “Harry Potter e a Pedra Filosofal” tudo era muito novo, infantil e fantasioso. Muitos anos depois, percebe-se uma história bem familiar, bem mais madura e nitidamente mais próxima da realidade. Claro que para isso ocorreu todo um processo que foi uma grande e inesquecível aventura não só para Harry e seu amigos, mas para todos os espectadores da franquia “Harry Potter”.

A sexta aventura de Harry Potter não é das mais empolgantes, mas abusa da inteligência do livro J.K. Rowling para motivar a todos para o que virá em breve, o grande final da série. Ainda sim, o filme merece ser visto por sua ousadia e peculiaridade diante de tudo que já foi vista na série.

Marcus Vinicius
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