Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 06 de abril de 2009

Velozes e Furiosos 4 (2009): feito para ter uma continuação

Tendo como principal estratégia de publicidade a volta de seu elenco original, “Velozes e Furiosos 4” apresenta as mesmas características típicas dos filmes da franquia: muitas cenas de perseguição, personagens rasos, uma trilha sonora recheada de hip hop e uma história que nunca convence. Porém, para quem é apaixonado por carros e velocidade, o longa é um prato cheio.

O primeiro filme da série, “Velozes e Furiosos”, tem como protagonista Dominic Toretto, ou simplesmente Dom (Vin Diesel), um fora da lei que tem como hobby ficar envenenando os seus carros de alta performance para prepará-los para corridas em plenas ruas de Los Angeles. A vida de Dom passa a ser investigada pelo policial infiltrado Brian O’Connor (Paul Walker), que está em busca dos criminosos responsáveis por roubos de equipamentos na cidade. Para ser aceito pela gangue, Brian precisa demonstrar habilidade no volante. Além de não decepcionar, ele se torna um sério desafiante para a hegemonia de Dom em L.A. A sinopse do longa não se diferencia muito da deste filme, pois Dom continua sendo caçado pela polícia, O’Connor permanece um agente infiltrado e todos os motivos os levam a voltarem a correr em busca de justiça e do verdadeiro criminoso. A única diferença é a intensidade do conflito que faz os dois partirem para novas aventuras.

Em “Velozes e Furiosos 4”, Dom e sua namorada Letty (Michelle Rodriguez) saíram dos Estados Unidos e agora caçam adrenalina na República Dominicana. Dom insiste para que Letty não permaneça ao seu lado devido aos perigos que corre. Apesar de ela o obedecer, já é tarde. Letty acaba sendo assassinada durante um misterioso acidente automobilístico. A partir de então, Dom retorna a Califórnia à procura do homem que matou a sua amada. Enquanto isso, Brian O’Connor tenta descobrir a verdadeira identidade do traficante Braga, chefe de uma quadrilha que transporta drogas pela fronteira com o México. A gangue recruta transportadores em corridas pelas ruas de Los Angeles, o que leva os dois antigos “parceiros” a se reencontrarem e, dessa vez, a agirem infiltrados conjuntamente.

Para trazer o elenco original de volta a franquia, seria necessária uma razão especial. Porém, é provável que o momento de baixa na carreira da maioria dos atores do filme os tenha convencido de que apostar na série que os levou ao estrelato seria a melhor estratégia para a retomada do sucesso. Vin Diesel é o principal expoente desse fenômeno. Revelado por Hollywood em 2001, justamente com “Velozes e Furiosos”, o astro conseguiu emplacar um outro sucesso de público logo depois com “Triplo X”, mas desde então não mais atraiu audiência. Apostou até em comédias, com “Operação Babá”, e foi ao fundo do poço com o imenso fracasso de “A Batalha de Riddick”. Já Paul Walker, que chegou a estrelar comédias adolescentes no início da carreira, passou a protagonizar filmes de ação nesta década, mas nenhum relevante nos últimos cinco anos. Como destaque negativo, Walker atuou na bomba “Mergulho Radical” ao lado de Jessica Alba.

Essa deve ser a principal razão, porque nada em “Velozes e Furiosos 4” explica esse retorno. A trama não apresenta nenhum toque de originalidade e tudo parece ser uma falsa justificativa para a inclusão de inúmeras cenas de ação. O roteiro de Chris Morgan, responsável pelo bom “O Procurado”, não tenta inserir toques dramáticos mesmo com a morte de uma das principais personagens. Sabemos que o filme não tem o propósito de comover ninguém, mas contar uma história no mínimo plausível ajudaria na verossimilhança do longa. Chris Morgan também deveria ter esclarecido melhor o histórico da relação entre cada um dos personagens, pois, para quem tem o primeiro contato com a série, muitas sequências perdem o sentido. Além disso, o roteiro apresenta elementos antiéticos ridículos, como na cena em que O’Connor, com a aprovação do alto escalão da Polícia de Los Angeles, leva riscos a população local ao participar de uma inconsequente corrida de carros. Através desse e de outros furos, o filme vai perdendo força frente aos seus fãs e seus novos espectadores.

Justin Lin, que também comandou “Velozes e Furiosos: Desafio em Tóquio”, dirige a produção com talento especial para as cenas de ação. A sequência inicial, que mostra a tentativa de roubo de um caminhão de combustível, é eletrizante, com destaque para as velozes panorâmicas de Lin pelas desérticas estradas dominicanas. Todavia, o diretor é incapaz de manter o ritmo nas cenas de diálogos, deixando o público ávido para uma nova perseguição de carro. Ele é prejudicado pela incansável trilha sonora que mescla músicas cantadas de hip hop e baladas de rock. O diretor vacila ainda ao repetir a sequência no túnel secreto na fronteira mexicana pelos mesmos ângulos.

Já o elenco é uma grande decepção. Vin Diesel, depois de vários filmes de ação pouco exigentes, deve ter esquecido como atuar. Totalmente inexpressivo, ele não demonstra nenhum sentimento, mesmo com a morte da namorada. O máximo que consegue fazer é cruzar os braços e ficar fazendo charme, enquanto Letty é enterrada um pouco mais adiante. Se no primeiro filme Diesel tirou a atenção de Paul Walker, aqui acontece justamente o contrário. Mais carismático, Walker não desperdiça todo o seu talento em músculos e cria um personagem crível, que sente dor ao ser baleado, ao contrário de Dom. Jordana Brewster, que interpreta Mia, a irmã de Dom e namorada de Brian, é um verdadeiro exemplo de atriz hollywoodiana que chama a atenção somente pela beleza. Já Michelle Rodriguez, mesmo com o seu pouquíssimo tempo de tela, nos deixa querendo mais. Bem que o roteirista poderia ter preservado seu personagem, pois ela seria um bom reforço na equipe de “caça aos bandidos”.

“Velozes e Furiosos 4” é um filme que se dirige quase exclusivamente para um público masculino pouco exigente cinematograficamente, por isso mesmo a produção não aposta em uma boa história, mas em excelentes cenas de ação. Para quem se insere neste público, uma boa notícia: no final da película há um mote para “Velozes e Furiosos 5”. Então, é ir aos cinemas e rezar para que a bilheteria seja boa, porque assim uma nova sequência estará garantida.

Darlano Didimo
@rapadura

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